quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Paranoid

     Ainda lembro quando ele chegou aqui. Olhar perdido nas paredes brancas. O cabelo loiro em contraste com os olhos negros. Não tinha qualquer vontade de caminhar, mas caminhava.
     Quando não caminhava sem direção, ficava o dia todo sentado embaixo de uma figueira. E em um desses dias eu me sentei ao lado dele e tentei conversar.
     Ele me disse que tinha terminado com a mulher já que ela não podia ajudá-lo com a mente dele. Ele olhou para mim esperando algum julgamento, mas não entreguei o que ele queria. Então continuou, dizendo que as pessoas pensam que ele está louco, já que o olhar dele possui ira o tempo todo.
     Lembro bem dele esticando os braços e dizer que durante o dia pensa em coisas mas nenhuma delas parece satisfazê-lo. Achava que ia perder a cabeça e não encontrasse algo para acalmar. Coçou a barba e tirou de dentro do bolso da camisa um comprimido.
- Você pode me ajudar? Ocupar o meu cérebro?
- Sim.
- Preciso de alguém para me mostrar o que a vida tem de melhor, essas coisas que não encontro. Acho que estou cego, não consigo nada daquilo que traz a verdadeira felicidade.
- Quer um copo d'água para ajudar com o remédio?
     Ele ficou balançando a cabeça de forma negativa por uns minutos. Estava com o comprimido na boca. De repente ele parou e cuspiu. Uma saliva grossa de quem há muito não bebia qualquer líquido.
- Faça uma piada. Você vai ver que eu vou suspirar enquanto você ri e enquanto você ri eu iriei chorar. Felicidade? Não consigo sentir. Amor? Tão irreal.
     A voz dele era carregada de uma carga angustiante. Não havia qualquer traço de alegria. Ou seria eu que não estava procurando do jeito correto.
- Agora você ouve essas palavras em que eu conto como estou. Só digo a você para que desfrute a vida, pois pra mim é tarde demais.
     Naquela mesma noite ele foi encontrado morto. Overdose de remédios. Nunca descobri o nome dele, já que os médicos nunca revelam informações para outros internos. Porque toda essa paranóia?

Black Sabbath - Paranoid
[http://www.youtube.com/watch?v=JvDcsMiVaLY]
Solicitação de Ruan.

The Climb

     Após dez dias de caminhada por entre árvores, flores e animais, eu encontrei a subida para a Montanha Misteriosa. Relutei em acreditar, nunca alguém havia encontrado. Se encontrou, não voltou para contar a história. Mas eu tinha certeza, aquela era a subida.
     Estava exausto, resolvi deitar e descansar um pouco antes de me aventurar por aquela estreita estrada. Acendi um cigarro de corda, tirei meu cantiu que transportava uma mistura de chá com uisque e me deixei levar pelos encantos da subida. Confesso que cochilei.
     Era nítido que eu quando podia ver o sonho que eu estava tendo. Uma voz suave, feminina e rouca, estava dentro da minha cabeça e me dizia que nunca iria atingir este meu sonho. Mas eu retruquei antes de acordar. Eu disse que cada passo meu, cada movimento perdido e sem direção, cada vez que minha fé treme, eu penso que tenho que tentar. Manter a cabeça erguida com olhos fixos no caminho estreito.
     Acordei assustado com o cheiro do cachimbo do meu avô, que desapareceu procurando a Montanha Misteriosa. Abre os olhos e procurei em volta e lá estava ele, ou que ele havia se tornado. Longos cabelos brancos, um olho cego e o cachimbo sempre no canto esquerdo da boca.
- Não precisa subir. - Disse ele - Existe sempre uma outra montanha.
- Não quero ir contra o senhor. Todos temos saudade. Eu sempre vou querer deixar passar, mas sei que existem batalhas dificeis, como sei também que vou perder algumas vezes. Isso não é sobre quão rápido eu posso chegar ao topo nem sobre o que me espera do outro lado.
- Eu sei, meu neto, é apenas a subida. Então me deixe ir, deixe eu sair da tua memória. Não faça isso por mim, faça por você. Você vai entender que sempre existe uma outra montanha.
     Eu fechei os olhos e deixei ele partir. Era por mim que eu estava ali. Não precisava colocar a responsabilidade em alguém. E as lutas que eu enfrentei, tomando chances que chamo de álcool, às vezes poderiam me derrubar, mas pelo visto não estavam me quebrando.
     Bati a poeira do corpo ao me erguer. Dei mais um gole e mais um trago. E comecei a subir. Eu sabia que talvez não podeira, mas foram aqueles momentos que vão me lembrar que só tinha que continuar. Forte. Eu tinha que ser forte.
    Ao longo da subida eu parava e escrevia. Palavras de incentivo. Continue se movendo. Continue subindo. Mantenha a fé. Mantenha a sua fé. Esta não é a Montanha Misteriosa?
Esta é a montanha chamada vida. Onde você sempre quer subir. E isso é tudo sobre a subida. Por isso ninguém volta para contar. Todos querem subir, ninguém deseja descer. Quem desce se cala e busca a subida.
Isso é tudo sobre a subida.

Hannah Montana - The climb
[http://www.youtube.com/watch?v=NG2zyeVRcbs]
Solicitação de Fernanda.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Basket Case

     Hoje eu acordei confuso. Não sei se é o efeito de uma mistura de loucuras. Fumaça, etanol e tiros no banheiro enquanto o rock rasgava o ar lá no palco. Talvez a distorção das guitarras tenham distorcido o meu mundo e tenham me feito acordar assim.
     Confuso? Você teria tempo pra me ouvir reclamar sobre nada e tudo, de uma vez só? Não sei se você entendeu realmente que eu sou. Sou um desses idiotas melodramáticos. Neurótico até os ossos. Não tenho dúvidas em relação a isso. Então não é isso que me deixa confuso.
     As vezes eu mesmo me dou sustos, as vezes minha mente prega peças em mim e tudo isso vai se somando sem parar. Acho que estou pirando. Sou apenas um paranóico ou só estou chapado?
     Não responda alto. Só deixa eu te contar que ontem fui a uma psiquiatra para analisar meus sonhos. Não entendo muito de psiquiatria, mas ela me disse que essa confusão é falta de sexo e que isso me deprime. Então, ontem a noite eu peguei uma prostituta, e ela me disse que minha vida é um saco e que eu devia parar de reclamar porque o tédio dela estava crescendo.
     E então eu me entreguei ao rock. E então eu acordei confuso. Fugindo do controle. Então é melhor eu me segurar.
     Afinal, sou um caso perdido.


Green Day - Basket Case
[http://www.youtube.com/watch?v=hitMpM-P-Bs]
Solicitação pelo Twitter de @Jacobsen_A

sábado, 19 de dezembro de 2009

Portugal de Navio

     Ligou a televisão no canal 16. O homem do tempo previa um dia ensolarado. Então resolveu ir deitar e pensar no garoto que tocava bateria num dos bares da cidade velha. Gostava do seu pensamento mutante pintado com canetinhas hidrocolor.
     Ajeitou o pijama sorrindo. Desligou a televisão e foi para cama. Encostada no travesseiro de algodão pegou na gaveta do criado-mudo a foto 3X4 que tinha dele. Suspirou e sorriu de novo.
     Ela sinceramente tentou amá-lo, mas do mesmo modo sincero também sabia que ele nem ao menos sentiu. Alisando o cabelo dele, liso e com modelo anos 70, sussurou baixo:
     - Eu tentei te encontrar, mas você me fugiu.
     Foi então que uma idéia surgiu para acabar com aquele sentimento. Hoje ela iria mandá-lo pra Portugal de navio. Deu uma gargalhada de quem sabia que estava pensando algo nada inteligente.
     E durante o sorriso foi que teve um susto. A foto piscou para ela e começou a falar. Ela deixou o tempo passar para tentar parar e se acalmar. Mas a foto insistiu e gritou:
     - EU VOU MUDAR! EU VOU TE AMAR! - Os gritos foram tão altos que mal dava para escutar dois pássaros cantando "sharararara" entre um grito e outro.
     Ela deixou a foto cair no lençol lilás e saiu correndo para a sala. O coração batia em ritmo acelerado. Ligou a televisão no mesmo canal. O homem do tempo ainda estava lá. Ele sorriu para ela e disse de modo calmo:
     - Você ainda não me viu de pijama sorrindo, a brincar.
     E quando ela piscou, na televisão era ela. E quando acordou, o mundo estava pintado com canetinhas. E quando suspirou deixou a loucura ir embora e pode tentar amar a mesma foto 3X4 que repousava muda na gaveta.

Os Mutantes - Portugal de Navio
[http://www.youtube.com/watch?v=IVtC12-vmRI]
Solicitação de Keit.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Somewhere Over the Rainbow

     Olhou pela janela do quarto onde estava trancado a tarde toda e viu que a chuva havia parado e alguns raios do sol ultrapassavam as nuvens de um cinza claro. Resolveu abrir a janela e deixar o cheiro de terra molhada entrar. No horizonte um arco-íris repousava levemente. Foi então que ele pensou nas coisas que ele encontraria em algum lugar além do arco-íris. Fechou os olhos e se deixou levar.
     E em algum lugar além do arco-íris, bem lá no alto posso ver os nossos pássaros azuis voando e lembro dos sonhos que você sonhou e neste lugar eles realmente se tornaram realidade.
     Pode parecer mentira minha, mas eu sei que em algum dia eu vou fazer meus desejos sobre uma estrela e ao acordar estarei em um lugar onde as nuvens estarão atrás de mim, onde todos os problemas do mundo derretem na boca como se fosse apenas balas de limão.
     Em algum lugar além do arco-íris, lá longe no horizonte, bem acima dos topos de chaminés das fábricas de sonhos materiais, você pode me encontrar. E não sei se já comentei que os pássaros azuis voam. São apenas sonhos, sabe? E se você os desafia, porque eu não posso também enfrentá-los de frente?
     Olhando isso, vejo que esse lugar qualquer além do arco-íris é um tanto chato, pois, bom, eu vejo árvores verdes e algumas rosas vermelhas também, eu sei disso porque eu as vi florecer pra mim e pra você, e eu penso aqui debruçado na janela "que mundo maravilhoso e chato".
     Bom, assim como os pássaros o céu também é azul e o dia brilha, embora eu goste do escuro insisto no pensamento de que o mundo é maravilhoso e chato. Então me volto ao nosso mundo e me fixo no arco-íris e nas pessoas que caminham pelas ruas úmidas da cidade. Vejo alguns amigos se interessando um pela vida do outro e eles realmente se amam. Amam?
     Eu volto a fechar a janela e ouço bebês chorando e quem sabe eu os veja crescendo e se tornando amigos e quem sabe eles vão aprender muito mais daquilo que nós sabemos e não desisto daquele pensamento de que o mundo é maravilhoso e chato.
     E em algum lugar além do arco-íris eu deixo as estrelas, as nuvens, as balas de limão. Deixo também os sonhos que você desafiou e que eu não tive coragem de desafiar. Porquê eu não posso?

Israel Kamakawiwo'Ole - Somewhere Over The Rainbow [http://www.youtube.com/watch?v=0ltAGuuru7Q]
Solicitação de Luana.

Um desafio

Diga-me uma música que te escrevo uma crônica...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Postagem Curta

Cansei.
Nenhuma palavra deseja sair para ser lida por outros ou mesmo por ninguém.
Procure um dicionário mais próximo.

Volte em breve.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tédio urbano

    Entediado, sento no banco da praça e fico vendo o sereno descer e deixar aos poucos meus poucos fios de cabelo úmidos. Não, na verdade não é bem tédio. Talvez uma pequena e suave tristeza que bate lentamente no peito.
    Estou sozinho, acompanhado de uma garrafa de vinho tinto seco e alguns cigarros que roubei da bolsa de uma mulher em uma dessas reuniões de comemoração de tantos anos de formado. Canto algumas músicas para quebrar o clima de silêncio angustiante. Essa é a minha noite, a primeira noite do resto da minha vida.
    Penso nos dias que antecederam esta noite úmida. E um estardalhaço de memórias urbanas invadem minha mente. Como eu gostava de pensar que eram memórias poéticas, mas não. Simples memórias urbanas, cinzas e densas, que ficam horas paradas em um engarrafamento mas que ao encontrarem transito livre percorrem a estrada da lembrança em uma velocidade que não posso mensurar.
    E nesta noite todas estas memórias encontraram este maldito e abençoado transito livre. Acendo um cigarro, mesmo sabendo que não sou um fumante. Apenas quero me sentir sujo por quebrar alguns dos meus principios. Do mesmo modo, bebo o vinho no gargalo e deixo um filete escorrer pelo canto da minha boca como se esperasse que alguma mulher estivesse ali para limpar com um beijo doce.
    Beijos doces. Como isso seria poético se não fosse o meu modo de ser com as mulheres. Lembro agora de uma certa vez que escrevi uma carta vergonhosa as mulheres, revelando o modo como eu as uso para poder escrever. Seria poético, mas é urbano e por ser urbano não vou revelar minhas memórias. Deixarei para outros contos, crônicas e poemas.
    Hoje só quero deixar o sereno tocar o meu corpo, fumar um cigarro e me embriagar. Sem falsos moralismos, sem falas que encantam. Hoje serei eu comigo mesmo. E viva essa minha vida urbana, fadada ao esquecimento e às dores de amores que finjo esquecer.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Mais uma saideira...

As pessoas caminhavam tonteantes por entre as mesas do bar. Alguns esbarravam na minha cadeira, outros esbarravam em si próprios e na sua vida que estavam tentando esquecer. Eu virado para ela, via um cenário passando atrás. Três garotas tatuadas e uma cerveja na mesa. Uma mesa vazia com três cadeiras vazias. O muro sem reboco pintado de branco. Uma árvore cortada que um dia tentou atravessar o telhao de fibras. E neste cenário, eu a via como estrela principal.
Seus olhos mareados de lágrimas que insistiam em não descer. Sua voz que tentava esconder um leve desespero sumia com os goles da cerveja, gelada do jeito que ela sempre gostou. O maço de cigarros sobre a mesa estava amassado, quem diria, ela dormiu com ele no bolso a noite anterior. Desastrada.
Eu só a escutava. Meu copo numa dança frenética entre estar cheio e estar vazio. O cheiro do cigarro dela grudando na minha roupa. Meus olhos miudos do sono. Meus ouvidos sempre atentos a cada palavra dela. E ela falava dele. E de quando ele iria embora. E de como ela não tinha coragem de dizer o quanto sentia por ele ir para tão longe.
Longe, essa palavra subjetiva que todos insistem em usá-la como algo concreto. Não estaria ela longe dele? Onde estaria ele? Segundo ela, seria melhor mesmo que ele fosse embora. Em boa hora. Não queria mais chorar sozinha. Não queria mais falar nele e de como ele era um idiota por deixar ela não revelar os verdadeiros sentimentos.
Tocou uma música nada conhecida. "La nuova giuventú". Tudo que sei é que você quis partir, eu quis partir você, tirar você de mim, demorei para esquecer, demorei para encontrar um lugar que você não me machucasse mais...
Esse era o sentimento. Essa era verdade. A real verdade.
Verdade?
Seremos sinceros. A verdade minha amiga é que estamos sempre nós dois juntos, sozinhos na busca de um amor que nos incomoda em ter, mas que queremos muito. Para chorarmos juntos nossas mágoas.
E que venham os outros amores e nossas próximas lágrimas por não termos os aceitado. Por termos escolhido fazer igual sempre. Será mesmo que o pra sempre sempre acaba?
Então? Desce mais uma original?
Essa é a saideira...
Só mais uma saideira.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Alguns dos meus Eus

Imerso em sua vida, Sandoval, meu heterônimo depressivo, buscava pacientemente, em algum lugar dentro de si, sair da cama em que estava deitado há mais de dois dias. Procurou no cérebro estagnado em memórias tristes e por estar nesta estagnação nada encontrou. Procurou no coração amargurado pelas dores dos amores cotidianos e por estar nesta amargura nada encontrou.
Sandoval decidiu ficar mais alguns minutos ali, esperando que algo de fora pudesse mexer no seu mundo. Mas como as mudanças entrariam no seu mundo se ele estava fechado dentro de um quarto de portas e janelas trancadas? Talvez algum espírito ou uma alucinação. Foi quando saiu de dentro do guarda-roupa uma combinação de ambas.
E era ele mesmo, ou eu mesmo, ou um outro de nós dois.
Anelise. Olhos de um castanho escuro. Lábios carnudos. Cabelo curto. Era o meu hererônimo histérico. Disse que estava tentando sair dali e puxar conversa há dias, mas não sabia o que poderia esperar. Ficou com medo de não ser aceita ou não ser entendida. Suas mãos estavam trêmulas tanto quanto sua fala. Sentou-se na cama ao lado de Sandoval e deixou que seus pés também ficassem trêmulos. Perguntou se existia naquele quarto escuro algum destilado forte. Sandoval afirmou que não.
Ficaram mudos por um bom tempo, até escutarem alguém batendo na porta. Quem seria? A porta se destrancou rápida e parecia algo mágico, pois a chave se movimentou sozinha. Quem entrou foi um ser radiante e com um sorriso largo. Adalberto, meu heterônimo maníaco.
Perguntou onde estava a alegria deles. E porque se perdiam em problemas. E porque não paravam de pensar que os problemas eram maiores que as soluções. Era uma felicidade sarcástica, uma alegria ácida. Queimavam as roupas de Anelise e Sandoval. Adalberto era realmente radiante. Como uma criança pulava em cima da cama e deixava seu corpo cair e ria muito.
Sandoval continuava com o olhar perdido e sem vida.
Anelise continuava a ficar trêmula e perdida em fantasias.
E os três não notaram que o meu verdadeiro eu os espiava de dentro do espelho.
Alguém me define?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O primeiro vômito...

Eu sinto o gosto de uma água salgada subindo. Enche a minha boca e eu cuspo fora. Tomo mais uma dose de uísque. O embrulho no estomago faz minha cabeça latejar.
Levanto e cambaleando vou até um muro sem reboco. Abro o zíper e deixo um pouco do alcool se esvair de mim. Minha cabeça gira, meu olhos tentam se concentrar em algo. Apoiando minha mão no muro, deixo o que há de podre sair de mim. Sem qualquer receio, tudo sai pela minha boca. Antes ligo o gravador e aqui deixo o registro:

REC
"Estou embriagado pela solidão. Bebi tudo o que ela me oferece. O gosto salgado do suco gástrico queima minha garganta, mas não me cala. Ficaria mudo se quisesse, mas não quero. Olhos nos olhos da juventude vejo as poucas verdades que esses jovens têm para falar. Falam de sexo sem nunca terem conhecido os seus próprios corpos. Falam de drogas sem nunca terem encontrado os seus próprios limites. Não venham com argumentos que isso se chama atitude juvenil. Isso se chama burrice. E a burrice da juventude me faz sonhar com os ditadores. Nos dominem antes que nós mesmos nos escravizamos através da falta de vontade de mudar o que ai está."
STOP

Depois desse vomito, me senti bem. E fui curtir a minha juventude, tão burra e com tantas mudanças para se fazer, e com tanta pouca vontade de fazer acontecer. Sentei na cadeira do bar e pedi mais uma dose e sonhei estar transando com a garota loira que jogava sinuca.
Até um outro dia, em um boteco qualquer...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Segundo sonho

Acordei suado. O coração acelerado. Liguei a luz do quarto e eles não estavam mais ali. Respirei fundo antes de tomar dois comprimidos de calmante acompanhados por um gole de cachaça. Liguei o ventilador de teto e voltei a dormir.
Cai em um mundo estranho. Tudo era muito cinza e cheio de fumaça. Havia morros. Sim, havia, mas todos com árvores de um verde opaco, com a vida apagada. O sol não conseguia passar pelas nuvens densas de uma chuva que insistia em não cair. Os cachorros latiam para o nada, os gatos miavam para o nada. E as pessoas?
As pessoas rumavam para o nada. Para o vazio chamado cotidiano rotineiro. Uma estrada sem curvas perigosas, sem atrativos. Uma estrada em linha reta. Uma estrada em que eu me encontrava. Comecei a caminhar sobre as lajotas empoeiradas, que descobri um tempo depois que era uma estrada de lajotas amarelas, mas nada que me causasse espanto.
Vaguei sozinho. Não necessariamente sozinho, mas era o sentimento. Existiam pessoas caminhando na mesma direção que eu e outras na direção contrária e de modo harmonioso ninguém se tocava. Alias, ninguém se olhava nos olhos, apenas do pescoço para baixo, como se procurassem a etiqueta de onde aquele sujeito havia sido fabricado.
Existiam os meus amigos também, que caminhavam ao meu lado, mas sem qualquer indicativo de companheirismo. Apenas caminhavam mudos, sem qualquer expressão. Caminhavam também para o mar? Não falavam, pois queriam continuar nessa constante solidão. Quem criou ela primeiro?
E tudo era um sonho, como eu sempre sei que estou sonhando. Me deixei levar por ele e então encontrei a Esfinge.
- Decifra-me ou te devoro!
- Quero apenas caminhar em direção ao mar...
- Pois bem, então decifra-me e terás sequência no seu caminho. Preparado?
- Existe a possibilidade de não estar preparado e querer voltar? - Ela fez sinal de negativo com a cabeça - Então estou preparado.
- Eis a minha pergunta: O que é que acorda desesperado "sem tempo" pela manhã, caminha imerso  no "sem tempo" até o fim da tarde, leva o "sem tempo" a noite e dorme apenas com remédios que o prendem nesse "sem tempo"?
- Essa é muito fácil. É a humanidade.
A Esfinge sorriu.
- Não. Esse é você, tão sem humanidade. Prepare-se para ser devorado, homem!
E então ela deu um salto sobre o meu corpo trêmulo com todos os outros viajantes parados esperando por sua vez de enfrentá-la. E então...
Acordei suado. O coração acelerado. Liguei a luz do quarto e eles não estavam mais ali. Respirei fundo antes de tomar dois comprimidos de calmante acompanhados por um gole de cachaça. Desliguei o ventilador de teto e voltei a dormir.

sábado, 7 de novembro de 2009

A primeira overdose

Peguei o pensamento que tinha dela. Transformei em pó. O mais fino pó. Ao pó voltaremos já dizia o padre da paróquia. Então peguei tudo que lembrava ela e fiz pó também. Estava cansado, não sei se você me entende?
Fiz dez fileiras. Dez tiros. Sem pêlos no nariz era o grito de guerra da minh'alma. Mas estava com medo. Abri um garrafa de uísque. Doze anos. Guardado para ocasiões especiais. Tomei até metade da garrafa, assim sem gelo. E me atirei no pó.
Cheirei tudo aquilo sem medo. Só senti minha cabeça sendo sugada para dentro dela mesmo. Meu coração acelerou rápido e depois foi só escuridão. E quando acordei estava aqui no céu. Anjos em volta de mim, cuidando do meu corpo nu. Quem me despiu? Estava vestido de calça jeans, camiseta rosa e descalço. Cheguei aqui desse jeito? Pode me responder? Não gosto de homens com cara de muro.
Desculpe-me. É a euforia de estar amarrado em uma cama como se eu fosse um louco. Minha irmã me contou tudo o que aconteceu. Pode ser mentira dela, mas ela não mentiria para mim. Talvez ela mentiu para vocês. Mas eu juro que não foi cocaína. Foi o pó que fiz das memórias dela.
Foi minha primeira overdose. Minha boca está seca e com gosto de meia suja. Quero um cigarro. Esse hospital é um saco. É um inferno, não sei porque insisto em chamá-lo de céu. Certo. Salvaram a minha vida. O amor mesmo é uma droga. Forte. Suja. Pesada. Mas cheirei tudo dela e agora vocês limparam minhas veias. Quem é ela? Não lembro nem mais o nome.
Sabe, doutor?! Quero amar de novo e sei que vou morrer por isso. Terei muitas overdoses dele. É um vício que eu tenho. O amor é mesmo uma droga.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Primeira Semana

Começou na quinta-feira.
Cheguei em casa e tomei um banho de água gelada. Pelo ralo foram as horas de trabalho e o meu suor do calor do meu espírito solitário. Era tarde da noite e como um bom solitário estava sozinho mesmo havendo pessoas vagando em passos lentos pela casa.
Deitado. Nu. Ventilador ligado. Meia luz. Incenso de canela. Os pensamentos giravam sobre mim, carregados pelas hélices de um ventilador velho de teto. O cobertor acariciava o meu corpo. A meia luz me dava sono enquanto o incenso de canela me dava nojo.
O celular tocou. Era ela. Minha amiga. As bebidas que haviam sido abandonadas me chamavam. Coloquei minha melhor roupa. Não fiquei feliz. Coloquei a pior. Não me agradei. Coloquei qualquer coisa. Estava pronto. E segue os fatos:
1. O carro sujo;
2. O caminho sujo;
3. O bar sujo;
4. A noite suja;
5. Companhia suja;
6. Sentimento sujo;
7. A volta suja.
Calado, durmo. Calado acordo. É sexta-feira.
E acordo tarde. Sem qualquer perspectiva de fazer algo que vale a pena. Olhos nas folhas da agenda. Existia um encontro com uma garota. Já havia sentido os lábios dela, mas não tinha vontade de beijar novamente. Não naquela sexta-feira. Imerso em nada as horas passam rapidamente. Coloco uma roupa qualquer, uma mistura entre a melhor roupa e a pior. Vou ao encontro dela. Ela vem em minha direção.
Olhando o caminhar dela me lembrei de Machado de Assis. Dissimulada. Linda. Mas não queria beijá-la. Deixei claro para mim mesmo.
Existia uma praia. Umas cervejas. Uma corrida na areia molhada. Cachorros vira-latas. Deixei ela guiar o carro. Olhei aqueles olhos. Existia uma paixão escondida aqui dentro. Existia?
Deixei ela frente a uma lanchonete. Voltei para casa. Durmi sorridente. Sem beijos. Mas com um amor para lembrar que agora no relógio já era sábado.
Deixei o sábado morrer. E como morto nada fiz. Sai de casa meia-noite passada. Domingo.
Domingo de madrugada. Até as cinco horas da manhã. Bebidas, risadas. Meus amigos com seus amigos. Minha amiga. Única. Vou sentir saudades. São Paulo é muito longe para sair do nada e encontrá-la para umas cervejas e palavras de conforto. São Paulo é muito perto para se sentir saudades. Ainda tenho apegos.
O domingo dorme para Segunda-feira acordar.
Segunda-feira. Se foi. Muda.
Terça-feira. Só ficou o tosse seca.
Quarta-feira. Jogo de futebol na televisão. Durmo no sofá. Nada demais.
Quinta-feira. É hoje. O último dia da minha semana. Faço agora um resumo semanal. Acordei sozinho na quinta-feira e de lá até hoje, quinta-feira, estou sozinho.
Sozinho não é bem a palavra. Mas na falta do que escrever é a que mais me define. Quem escreve ao lado de alguém se perde na angustia de não se transparecer. Então, me transpareço e que venha a segunda semana, mas não venha rápido. A rapidez de uma semana equivale a insegurança dos meus dias de poeta. Vago.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Primeiro Dia

Hoje eu acordei com o barulho do despertador do celular. 7:35h. Não é uma boa hora para se levantar. Programei para despertar novamente as 8:15h. Essa sim é uma ótima hora para se levantar.
Sentei na cama e coloquei os pés quentes no chão frio. Cocei a cabeça e percebi que o pouco cabelo que me resta continua me restando. Esfreguei o rosto e senti a pálpebra do olho esquerdo tremer de modo involuntário (o que persiste em estar acontecendo neste momento).
Vou tirar o texto do passado e colocar no presente.
Encontro minha calça de moleton azul marinho. Olho no espelho e vejo que continuo com gordura localizada na minha barriga cheia de pêlos. Me sinto sensual. Suspiro e vou até o banheiro. Jogo água gelada no meu rosto e o pouco de sono que me restava se assusta e se esconde em algum pedaço do meu corpo (que mais cedo ou mais tarde irei encontrar).
Tomo meu café e solicito carona para minha mãe. Vou até o consultório. Meu pedaço de felicidade que carrego para minha vida. Decido que é hora de ir ver os planos e os valores nas academias de musculação. Decido que é hora de fazer exercícios. Decido que é hora de perder gordura da minha barriga cheia de pêlos.
A acadêmia é excelente. Os valores são salgados. Sei que algumas vezes eu já me perguntei, mas gostaria realmente de saber se tenho que me pagar de "homem gostoso" na frente do espelho quando estou fazendo os exercícios. É um ambiente hostil. Mas eu decido que preciso fazer exercícios. Ser mais um suado no meio de tantos suados. Posso pensar enquanto faço os exercícios ou isso atrapalha?
Vou até o escritório de advocacia do meu primo. Que também é meu tio. Que também é padrinho. Que também é meu amigo. Conversamos por alguns minutos e vamos até um supermercado. No caminho lembramos da nossa infância e adolescência. Os carrinhos de picolé. Os carros velhos. As músicas estranhas gravadas nas velhas fitas K7. Nos despedimos e sigo andando até minha casa.
E almoço. Vou sentir saudades desse alimento quando for hora de partir de casa e ter minha própria morada?
Então tiro esse texto do presente e o lanço para o futuro.
O sol irá aparecer a tarde. Vou caminhando até a clinica e faço mais alguns atendimentos. Se chover, voltarei para casa e conversarei com as pessoas no meu mundo virtual. Vou pensar nas garotas que estou interessado e vou chegar a conclusão que se eu mandar mensagens para elas 1:00h da manhã, talvez elas nunca irão se interessar por mim. Se o tempo se manter limpo, vou até a cidade vizinha. Vou me encontrar com uma amiga, vamos conversar e vamos rir, talvez caminhar pela praia.
Então voltarei para casa. Será noite. Vou tomar um banho. Colocar minha camiseta branca. Ajeitar o travesseiro e dormir. Talvez eu sonhe com algo, mas não sei se vou conseguir me lembrar. Se me lembrar contarei aqui amanhã.
Sonhar é sempre um bom assunto para os desavisados...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um novo começo

Esse blog entra em uma nova fase.
Deixa de ter uma poesia romantica para ter uma poesia mais urbana, concreta e escura.
O mundo de David passará a ter relatos diários de eventos cotidianos.
Minha vida contada em um blog.
Nada original.
Apenas outros clichês.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O amor já nasceu feito

Me dê um trocado que te faço o mundo
Me dê um oi que te faço um dia inteiro
Me dê um minuto que eu te faço uma vida
Me dê um adeus que eu faço a minha solidão
Me dê um beijo que então não faço nada
Nosso amor já nasceu feito.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O amor é colorido...

É engraçado como a história se repete. Não por ela se repetir, mas pelas promessas que tudo seria diferente dessa vez. Mas nunca será. Terá um novo contorno ou uma nova roupagem, mas sempre será a mesma história.
E falando em nova roupagem, nosso personagem se apaixonou por uma imagem. Mas não se sente culpado por isso, pois sabe que nasceu em um mundo voltado para o belo. E sua idéia de ética era tão estética quanto não era social. Não queria se relacionar com o ser amado. Queria apenas poder contemplar sua imagem andante. Aqueles cabelos rubros, a pele branca, os olhos verdes e as roupas.
Que roupas lindas ela tinha. Fazia combinações magistrais que levariam qualquer pessoa ao orgasmo apenas em ver aquela roupa caminhando pela cidade. Mas esse orgasmo nem sempre era possível para o nosso personagem, então ele preenchia o seu vazio com as informações midiáticas.
Sentava frente ao seu computador branco, com adesivos colados, dando um profundo ar de retrô. Sobre sua cabeça ele ligava o televisor. Pegava umas revistas. Ligava o rádio. Era uma enchente de informações que entravam pelos seus ouvidos. E as notícias também eram estéticas. Belas. Um belo selvagem, admitia. Eram mortes, assaltos, sequestros. Assassinos de ternos e gravatas matando a cidadania.
O trágico também é belo. As pernas que tremem ansiosas dentro de sua calça xadrez também são belas. Sua casa pintada de verde limão. Seu carro amarelo. Seu refrigerante de embalagem dourada. Os livros com capas brilhantes. Os brinquedos das crianças, multicoloridos. Seu desodorante com encaixe para as mãos. O televisor de tela plana. O preservativo na cor roxa. As escovas de dente com um formato que alcança a garganta. O chinelo de tiras de material reciclado. Tudo tão belo. Tão estético. Tudo não exatamente funcional.
E o seu amor pela imagem era assim também. Ele já a tinha. A imagem era um produto que ele consumia diariamente. Entrava todos os dias na sua comunidade visual de relacionamentos para enxergar aquela que era sua musa inspiradora. Essa paixão desvairada, tão cheia de coloridade.
E nesses tempos ninguém mais ouve falar de amor. O amor se vê e se revela nas palavras impressas das capas de revistas. Nas comunidades de relacionamento. Mas eu prefiro os amores estampados em outdoor, são os maiores amores que o mundo pode ver. Amém!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Uma prosa-poética para o sufoco

Em dias distantes a lembrança sufoca até o passo mais lento, o passo mais violento, as feridas mais abertas. Foram minutos de carinho, de afeto e de amor singelo. Agora a lembrança me sufoca. Sufoca e aperta o peito, como se pedisse para deixar de existir. Em vão.
As lágrimas repousam nos olhos e pedem para cair e limpar a sujeira do ambiente, encravada na face oculta do cotidiano soberbo. Meus anexos fechados, que chamo de saudade, permanecem nos armários empoeirados da sala de estar. Eu os alcanço na leveza de um sonhar apagado.
Meus sonhos, tão teus que me confundo ao acordar e não ver você ao meu lado. Logo você, que nunca esteve deitada ao meu lado, mas amassa com seu corpo ausente o lado que é só seu seu por direito. Um direito quase canônico. Então, os travesseiros de pena, o cobertor de cetim, meu pijama sujo de achocolatado. Um cotidiano fracassado por ter decidido amar errado.
Repouso. Calado. Fraco. Envergonhado. Encoberto pela angústia de não me livrar deste sufoco. Quem sou eu? Quem são vocês em mim? Quem me diz qual a melhor parte de você que dorme em mim? Quero te acordar para navegar por nuvens brancas, ou nesse céu estrelado que me acompanha febril pelos bares desta cidade morta, de pessoas mortas, de amores ressucitados.
Mas veja, as desculpas não me impedem de terminar agora. Esquecer os dedos apoiados sobre o teclado e deixar que a minha mente termine por mim. Então, se deixar ela livre, apenas o seu nome ela vai insistir em escrever. Teu nome. Ponto. Teu nome. Ponto. Teu nome. Sufoco. Ponto final.

domingo, 4 de outubro de 2009

Confuso

Ignora meus recados
Me sujeita ao esquecimento
Tropeça no meu desejo
Vai embora sem porquês
Pisa na minh'alma
Sossega nos meu braços
Tão bem sei que sabes
Sem você sou mais ninguém

sábado, 3 de outubro de 2009

Tão sem fim é o começo da loucura
Um afeto que espuma
Uma vida que se desespera
Vingança? Gelatina de Baunilha
Enfadonho.
Meus sonhos.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Material e Espírito

Despindo-me de mim mesmo, jogo o material sobre a cama e preparo a banheira para dar banho no espiritual. Mas meu espiritual sente frio, fome e cansaço. Deixo a banheira para depois. Desço as escadas tentando não acordar os outros. Outros quem? Não existe alguém que se incomode ou note minha presença. Se existe, não se revelou. Então sigo em frente. Preparo uma salada de frutas reforçada. Sento na cadeira de madeira. Gelada. Sinto arrepios. Como lentamente a salada de frutas enquanto meu corpo se acostuma com o frio.
Como mas deixo as sobras sobre a mesa. Penso na banheira de água morna que espera meu espírito. A idéia me agrada. Deixo tudo de lado e volto ao banheiro subindo correndo as escadas. Adiciono a água da banheira essência de camomila. O perfume invade a casa. Se ainda estivesse com os meus pulmões eles também seriam invadidos.
Fico ali, com o meu espírito, estático na banheira. Não penso nos males da alma. Não penso nas pedras da vida. Não penso nessa droga chamada amor. Fico ali. Deitado horas e horas. Tudo parece tão sóbrio nestes dias de miséria material.
Pego a toalha e não me seco. Lembro de última hora que o espírito não se molha e nem úmido fica. Dou um sorriso quando passo frente ao espelho. Pego o material jogado sobre a cama. Está amassado pelo tempo. Não me importo, é apenas material. Me visto com o meu corpo. E tudo volta.
Penso nos males da alma. Penso nas pedras da vida. Penso nessa droga chamada amor. Fico ali. Parado horas e horas. Tudo parece tão embriagado nestes dias imerso de miséria material.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ejaculação

Não me venha com esses versos puros de menina de virtudes frágeis e cálidas. Não me diga que não posso ter esse espírito sem pudor, sou um anjo pornográfico que erotiza tudo que escreve. Meus dedos masturbam as teclas dessa máquina de escrever vagabunda, que nada pede quando eu a toco e procuro o seu ponto e o G.
Desculpa minha ignorância. São os meses sem fazer amor com as páginas nuas dos livros de poemas. Esfregando meu membro na cara fudida de.........................................................................................
.........................................................................................................
...................................................
.......................
Aaaaaaaaaaaah
..............
Desculpa, ejaculação precoce!

domingo, 27 de setembro de 2009

Paradoxo

Palavras ao vento misturadas com mel.
Harmonia sem fim em um caos controlado.
Vazio intenso repleto de cores.
Sentidos, sentimentos. Vozes.
Eu.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A verdade sobre minhas mentiras amorosas

Querida,

Queria poder dizer que me apaixonei pelo teu jeito de ser, mas estaria mentindo. Você talvez nunca saberia que eu menti em relação a isso, mas cansei de iniciar relacionamentos tendo a mentira como ponta-pé inicial. Posso dizer que você me inspira, e isso é verdade. Mas paixão é algo que há muito tempo eu não sei o que é, já que a última vez foi em outra vida, quando ainda não havia renascido nesta.
Gostaria que você não se chateasse por isso, e vou te explicar o porque. Na primeira vez que entrei em um relacionamento utilizei da mentira para que a pessoa sentisse pena do meu ser. No começo foi ótimo, ela era meu anjo da guarda e eu era vítima de algo que era mentira. Mas os dias foram se passando e utilizei desta minha mentira para ferir a pessoa que estava ao meu lado e que dizia me amar. Então tudo terminou. E agora ela está longe, a garota e aquela mentira.
Então veio o segundo relacionamento. E comecei com a mentira de que nada sentia em relação aquela garota que estava longe. Menti para mim mesmo. Todos os dias eu acordava e dizia para mim que eu não me sentia arrependido por ter mentido e ter deixado escapar aquela garota que cuidava de mim. E então eu mentia dizendo que amava está nova pessoa que estava ao meu lado. Mas, querida, a mentira dói e sufoca. E então resolvi falar a verdade para mim mesmo. Então mais uma vez tudo terminou. E agora ela também está longe, a garota e aquela mentira.
Resolvi dar um tempo para eu pensar. Não queria mais mentir. E veio o terceiro relacionamento. Sem mentiras? Não. Não seria assim fácil, se é que você pode me entender? Menti tanto para a garota quanto para mim, afirmando que era para sempre, que embora diferente eramos iguais. A mentira realmente é algo que sufoca, tentei ser diferente mas um dia ela esfaqueou a minha mente e gritou: BASTA!
Adivinha o que aconteceu? Sim, pela terceira vez tudo terminou. Pela terceira vez ela também está longe, a garota e a mentira.
Minha vida foi sempre essa mentira, mas que de tão podre está servindo de adubo para que uma nova vida cresça, como uma flor de lótus. Por isso quero que você saiba a verdade, eu não estou mentindo para você. Eu não estou apaixonado. Mas a cada dia você me cativa mais e mais. E não quero estar com você por apego, quero ir me apaixonando aos poucos, para que dure uma hora inteira e não apenas dois segundos.

Aguardo resposta,
Com carinho

David.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Matou

Sentada na solidão de um quarto fechado ela cortava os cabelos negros lentamente. Havia decidido deixar para trás as marcas de um passado turbulento e sentir os novos ares do futuro. Então ali estava, com o corpo branco e nu sentada no chão frio do seu quarto.
Os lápis preto escorrendo pelo rosto, devido a chuva que caía forte lá fora, dava um contraste quase de cadáver a ela. Os lábios sem qualquer traço de batom estavam roxos de frio. A respiração estava pesada. Não queria pensar no que poderia acontecer, se o que havia feito era algo lovável de comemorações. O que sabia era que o futuro havia batido a porta.
De repente um estrondo de raios e trovões tremeu os vidros do quarto. Repousou a tesoura ao seu lado e se ergueu. Olhou-se no espelho quebrado, sentiu-se atraente. Os mamilos rosados. O ombro com rosas vermelhas tatuadas. Deu a si própria um sorriso com um leve ar de erotismo. Estava preparada.
Ela matou a Morte e foi obrigada a tomar o seu lugar. Pegou seu instrumento de trabalho. Colocou sua meia arrastão 3/4. Pôs o seu vestido negro. E desapareceu prometendo que um dia ela aparece para você.

sábado, 12 de setembro de 2009

Desejo sem fim...

...de que adianta eu falar todos os meus sentimentos por ti se você ainda está presa ao seus sentimentos que são todos dele? Prefiro me abraçar a eternidade deste momento e sonhar que após tudo isso eu ainda serei meu, mas serei tão meu em ti. Sem Si, em Dó ou em qualquer escala.
E se eu te amasse desde daquele dia?

Enquanto isso no Inferno... parte 2

O Diabo quis saber porque Deus recebeu um post maior que o dele. Pura maldade!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

E enquanto isso no céu...

E no oitavo dia, Deus acordou.
Ajeitou-se na cama e mentalmente chamou um dos anjos. Aquele que estivesse mais próximo que viesse. Não gostava de chamá-los por nomes, até porque não havia dado qualquer nome a eles e talvez, se tivesse mais tempo, poderia dar uma forma pronta. Mas deixou que se divertissem a vontade em relação a isso.
Assim, logo Deus foi atendido por um dos anjos. Com senso de humor, Ele riu deste que ali se apresentava e soltou o comentário: - Você tem asas, como as aves. Também põe ovo?
O anjo sorriu e até pensaria em ficar chateado, mas Deus tudo sabe, e de nada adiantaria esconder aquele sentimento. Pediu em que poderia ajudar. Deus pediu então que ele sentasse ao seu lado e contasse como estava a sua criação e dessa vez o sorriso do anjo saiu meio sem graça. Arrumou suas penas e começou a falar.
- Desde ontem, quando o Senhor tirou o dia para descansar, já se passaram milhares de anos da Vossa criação e pelo que temos visto, não está nada bom. Todos são muito egocêntricos e acreditam que o seu planeta é o único com vida inteligente. E em cada planeta existe um monte de problemas sociais, desigualdades e vários dizem que fazem isso porque Vossa pessoa assim quis e assim mostrou em sonhos. Não sei não, hein Deus! Mas o negócio está feio.
Deus tentou coçar a cabeça, mas não tinha uma. Nem mãos, nem dedos, nem forma. Mas tinha um sorriso, era maravilhoso. O anjo ficou sem saber o porque do sorriso, pois não parecia ser algo triste ou desapontado.
- Porque o Senhor ri? Se a Vossa criação é uma desgraça?
- Ora meu jovem anjo, enquanto você falava eu fui verificar dentro das pessoas. Porque o principal da minha criação não foi o mundo exterior, mas sim o mundo interior, particular de cada um. O exterior serve apenas para ser experienciado e servir de aprendizagem.
- Mas Senhor, eles dizem que decifraram o código da vida e deram o nome de DNA. E estão brincando de ser Deus. E alguns nem acreditam que o Senhor existe.
- Está aí algo que é muito sério. Porque o código da vida não está no DNA, está no coração de cada um. Quem encontrar a vida no seu coração não precisará brincar de ser Deus, pois não tem graça. Se brinca apenas seis dias e no outro já se está cansado.
- Não havia pensado nisso. - Disse o anjo.
- Eu também não. Alias, você acha que quando eles se destruirem, na minha próxima criação eu devo colocar inteligência neles?
E então, tudo se apagou. E assim Deus criou novamente a escuridão, com a idéia de criar um tal de Adão e uma tal de Eva, e se divertir com isso.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Nossa Amada.

Gritem. Vamos. Gritem bem alto para que todos possam ouvir. Não. Não quero que sussurrem. Quero que vocês gritem: "Este homem é louco, se apaixonou por uma imagem!". Porque vocês não gritam? Têm medo de se tornarem loucos, tão loucos quanto eu?
Para quem não está entendendo essa discussão que agora está quase no fim, vou ser redundante e começar pelo início, e começo com o sóbrio "era uma vez...". E era uma vez, eu. Sim eu mesmo. Tão breve que tropeçava em minhas próprias palavras e tão míope que não enxergava a minha própria ignorância, que resolvi passear por este mundo virtual. E foi nesse mundo que a encontrei. Estática. Suavemente estática. Uma simples imagem colorida.
E eu, em minha inocência desvairada, deixei meu coração aberto para que a imagem pudesse entrar e assim senti as batidas de alguém calado, sempre com a mesma expressão. Sempre com o mesmo batom vermelho. Sempre com as mesmas unhas vermelhas.
Se ao menos pudesse te colocar em um quadro, você decoraria o ambiente e, então, eu saberia que tudo não passava de algo tão "Salvador Dali". O que me deixaria confuso é saber se por dentro eu me tornaria dadaísta ou se por fora eu seria surrealista. Magritte se puderes perdoar também minha ignorância.
Minha imagem. Cheia de pinturas em sua pintura. Em cada movimento estático um novo quadro se revela. Minha imagem, és o próprio "Musée du Louvre" e todos os movimentos artísticos repousam em ti. E você não sabe, mas enquanto aqui falo de ti, lá em baixo, por todo reino, os meus amigos me chamam de louco. Não chamam, sussurram. Mas é porque nunca viram você. Essa imagem velada de palavras, mas repleta de signos.
Sou louco, concordo com eles. Mas não sussurro. Com os dedos sujos de tinta, continuo a escrever e minha paixão se tornará pública. Mas tenho medo. Tenho medo que um dia eu venha a te conhecer e descobrir que te amava mais quando ainda eras essa simples imagem.
Por hoje, tua imagem.

Enquanto isso no Inferno...

E pobre do Diabo, hoje mora na periferia e tem que aceitar em sua casa todos os filhos que não são seus.

Palavras em greve

Minhas palavras estão em greve. Vou ficar apenas com as que resolveram trabalhar, os pontos e vírgulas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nas asas de Gabriel

Sentado no parapeito do terraço do prédio mais alto da cidade, Gabriel olhava o mundo que seguia seu rumo lá embaixo. E como era engraçado ver a humanidade de tão alto. Ele, com seus olhos azuis e seu cabelo loiro encaracolado, gostava desse sentimento de não poder ver o rosto dos homens e mulheres que lá passavam, cada qual imerso em seu próprio problema.
O que achava engraçado era como cada pessoa carregando sobre sua cabeça o seu problema não se colidia com o problema do outro que vinha em sentido contrário. Mas sabia que nem sempre era assim.
Lá do alto, percebeu que dois jovens discutiam, talvez encenavam uma discussão, mas era tão certo que não. Gabriel gostaria de poder ouvir lá do alto, mas não era responsável por aqueles dois garotos, então se contentou em imaginar o que era. Talvez fosse por conta do amor que ambos sentiam pela mesma garota. Talvez fosse o ódio que sentiam por ser irmãos do mesmo pai. Embora com tantas possibilidades de "talvez", o mais correto era a certeza que era uma coisa fútil e sem sentido. Algo tão humano quanto chorar.
E Gabriel gostaria de saber o que era chorar. Tentou várias vezes e não conseguiu. A última tentativa foi olhar com certa ignorância os que caminhavam solitários lá embaixo e, ao mesmo tempo, o sol se pondo no horizonte por trás das nuvens densas e cinzas de poluição, o que dava um aspecto melancólico.
Como todos sabem, ele era Gabriel. Tinha olhos azuis e cabelo encaracolado, e isso ninguém dúvida. Não sabia exatamente quantos anos tinha, mas tinha aspecto juvenil, e isso ninguém dúvida também. Sempre teve um bom coração e ajudou a todos que pediam por sua ajuda, e estes por mais que não quisessem só lembravam dele quando outra tribulação surgia em seu horizonte particular. E mesmo com tudo isso, Gabriel queria chorar, e nunca conseguiu, tudo por conta do seu criador. Aquele que todos os dias o sufocava com pedidos de "ame a humanidade".
Mas, já era tarde. E a noite veio juntamente com os carros de luzes asmáticas lá embaixo. Era hora de partir. Gabriel não se despediu da humanidade lá embaixo. Sabia que em breve se veriam novamente. Ficou em pé no parapeito. Abriu os braços e voou.
De olhos fechados sentiu o vento da noite tocar o seu rosto, passando rápido e revirando seus cabelos loiros. Uma sensação de liberdade, como que voar fosse o que melhor pode acontecer. Contudo, foi um vôo breve, não durou mais do que segundos. Pouco antes do fim acontecer, Gabriel abriu os olhos. Estava apenas a alguns centímetros do chão. Foi então que ele se lembrou que não era anjo. Era apenas mais um suicida.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A maionese, o refrigerante e os pensamentos

E de repente você encontra aquela pessoa que você sempre buscou. Mas você está de meias e chinelo. O cabelo está um tanto desarrumado. Uma mancha de maionese na camiseta preta e um negócio verde nos dentes da frente.
Ela te sorri, e você todo sem jeito derruba o copo de refrigerante e molha o chão da padaria. Então você pensa: "Porque exatamente estou tomando refrigerante as oito horas da manhã?". Você tenta não olhar para ela. Com vergonha encontra o espelho que fica nas costas dos cestos de pão e você percebe que ela te olha sorrindo e balançando a cabeça.
Você balança as pernas e procura algo para se limpar. Tudo em vão. Limpar a sua imagem era o que você realmente precisaria. Enquanto esfrega o guardanapo na camiseta preta, um pensamento te dá um soco na boca do estômago: "Ela está rindo para mim ou de mim?". Atormentado.
Que direitos ela tinha para, em plena segunda-feira, entrar na padaria e agitar assim o seu mundo. Se ainda fosse da região, mas você tem certeza que essa pessoa não morava por ali perto. Ou será que frequentava outras padarias? Talvez fosse hora de ir em busca de novas padarias. Mas essas outras padarias te permitiriam entrar de chinelos e meia? Talvez fosse melhor que não permitam, muito menos que se beba refrigerante e se coma empada com maionese as oito horas da manhã. Indignado.
Então, você decide olhar para pessoa novamente e decidir se ela realmente sorri para você. Mas devido aos pensamentos você descobre que não percebeu que ela já havia ido embora. Procura a sua volta e nada, nem qualquer outra pessoa. Ficou só você e o atendente. Você dá de ombros. Desmotivado.
Levanta o copo de refrigerante, coloca mais maionese na empada e pensa: "...".

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Jornal de Folhas Cinzas

Lendo os noticiários no jornal percebo que falta alguma coisa ali. Mas parece tudo tão igual. As letras estão impressas, acompanhadas de algumas fotos ilustrativas. A tinta que solta e deixa a ponta dos meus dedos cinza também está ali, intacta.
Esse sentimento de que falta algo naqueles inúmeros papéis organizados de modo minucioso a estabelecer uma lógica sensata de ordem e de preservação de seu conteúdo me faz perguntar: O que falta? Olho o todo e as partes. Também estão ali os repórteres, ou colunistas e a publicidade, esta última dando cor ao cinza, ao preto e ao pouco branco ali presentes.
Resolvo ler o jornal partindo da última página e buscando a primeira na ânsia de encontrar aquilo que ali não encontro. Em vão, leio pela segunda vez as mesmas matérias e nada. Não acho o que falta.
Deixo o jornal repousando sobre a mesa de centro, tiro os óculos e esfrego os olhos que passam a arder ainda mais em contato com os dedos sujos de cinza. Penso nas matérias, nas colunas, nas gravuras e nos preços dos produtos anunciados e me surge frente ao meu nariz o que faltava.
Hoje quando acordei procurava um pouco de humanidade. Pensei que encontraria nesse amontoado de folhas e palavras que foi jogado, pelo garoto em sua bicicleta vermelha, sobre as bromélias molhadas do quintal. Mas como posso encontrar essa humanidade ali, se ainda não a encontrei aqui, dentro de mim?
Outra hora penso em um fim para este texto sem humanidade alguma.

domingo, 6 de setembro de 2009

O Tempo

O celular me desperta acordo medito levanto troco de roupa lavo o rosto amassado pelo travesseiro e desço para tomar um café que vai realmente me acordar o cheiro me dá um embrulho no estômago então tomo um copo de água antes pego uma xícara e repouso sobre a toalha suja de farelo dos outros que acordaram antes de mim o café aquece essa xícara e é amornada quando o leite se mistura tomo um gole amargo o pão adormecido com o doce de morango e nata cansam a musculatura do meu maxilar termino e subo para escovar os dentes pego a escola coloco o creme dental antes lembro que tenho que respirar.
.
Respiro.
.
Escovo os dentes como aprendi com o dentista quando ainda era criança mas não limpo a pia como deveria ter aprendido com minha mãe quando eu também era criança e penso que ela deveria ter me ameaçado com uma broca e com aquele barulho irritante então decido que estou atrasado e tenho que correr para meu trabalho e lá vejo que poderia ter ficado mais alguns minutos parado atrás daquele carro vermelho que insistia e estar no meio da rua como se só ele pagasse os impostos chegam os clientes e mais uma vez vem o pensamento de que devo respirar.
.
Respiro.
.
Fim de tarde tudo resolvido ou quase tudo encaminhado ou quase tudo ficou para trás e vou terminar amanhã que ainda vai ser um dia qualquer da semana que não me lembro exatamente qual chego em casa estaciono o carro na garagem apertada e saio exprimido batendo com a porta na parede e deixando-a a cada dia mais arranhada encontro frutas na fruteira sobre a mesa como alguma e subo troco de roupa e vou correr corro todos os dias sete quilômetros mas quando penso em correr aquele pensamento passar uma ultima vez na minha mente.
.
Respiro.
.
Corro até cansar e chego em casa tomo um banho arrumo as coisas para o dia seguinte arrumo também o despertador do celular e pego uma revista para ler enquanto finjo não ter qualquer culpa em estar com sono e não estar adquirindo qualquer conhecimento relacionado aquilo que está impresso nas páginas amassadas daquela revista então penso que chegou a hora de apagar a luz do quarto apago e jogo a revista em um canto sento e finjo que vou meditar e ao sentar lembro como será o meu dia e ao invés de respirar me vem outro pensamento.
.
Suspiro.
.

Eu sou...

Sou uma pessoa que não gostaria de ter me tornado passando agora pela costa americana é a ideologia de um mundo globalizado, capitalista e desumano o que acontece em boa parte do globo terrestre é aquele animal que vive apenas na terra, enquanto os aquáticos vivem na água doce ajuda a acalmar quando você está estressado e precisa relaxar.
Eu sou assim e não "açim". Sou clássico, moderno e pós-moderno. Tenho tatuagens que você não pode ver, mas que não saem nem com laser.
Eu sou. Eu fui. E em breve serei.