quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Primeira Semana

Começou na quinta-feira.
Cheguei em casa e tomei um banho de água gelada. Pelo ralo foram as horas de trabalho e o meu suor do calor do meu espírito solitário. Era tarde da noite e como um bom solitário estava sozinho mesmo havendo pessoas vagando em passos lentos pela casa.
Deitado. Nu. Ventilador ligado. Meia luz. Incenso de canela. Os pensamentos giravam sobre mim, carregados pelas hélices de um ventilador velho de teto. O cobertor acariciava o meu corpo. A meia luz me dava sono enquanto o incenso de canela me dava nojo.
O celular tocou. Era ela. Minha amiga. As bebidas que haviam sido abandonadas me chamavam. Coloquei minha melhor roupa. Não fiquei feliz. Coloquei a pior. Não me agradei. Coloquei qualquer coisa. Estava pronto. E segue os fatos:
1. O carro sujo;
2. O caminho sujo;
3. O bar sujo;
4. A noite suja;
5. Companhia suja;
6. Sentimento sujo;
7. A volta suja.
Calado, durmo. Calado acordo. É sexta-feira.
E acordo tarde. Sem qualquer perspectiva de fazer algo que vale a pena. Olhos nas folhas da agenda. Existia um encontro com uma garota. Já havia sentido os lábios dela, mas não tinha vontade de beijar novamente. Não naquela sexta-feira. Imerso em nada as horas passam rapidamente. Coloco uma roupa qualquer, uma mistura entre a melhor roupa e a pior. Vou ao encontro dela. Ela vem em minha direção.
Olhando o caminhar dela me lembrei de Machado de Assis. Dissimulada. Linda. Mas não queria beijá-la. Deixei claro para mim mesmo.
Existia uma praia. Umas cervejas. Uma corrida na areia molhada. Cachorros vira-latas. Deixei ela guiar o carro. Olhei aqueles olhos. Existia uma paixão escondida aqui dentro. Existia?
Deixei ela frente a uma lanchonete. Voltei para casa. Durmi sorridente. Sem beijos. Mas com um amor para lembrar que agora no relógio já era sábado.
Deixei o sábado morrer. E como morto nada fiz. Sai de casa meia-noite passada. Domingo.
Domingo de madrugada. Até as cinco horas da manhã. Bebidas, risadas. Meus amigos com seus amigos. Minha amiga. Única. Vou sentir saudades. São Paulo é muito longe para sair do nada e encontrá-la para umas cervejas e palavras de conforto. São Paulo é muito perto para se sentir saudades. Ainda tenho apegos.
O domingo dorme para Segunda-feira acordar.
Segunda-feira. Se foi. Muda.
Terça-feira. Só ficou o tosse seca.
Quarta-feira. Jogo de futebol na televisão. Durmo no sofá. Nada demais.
Quinta-feira. É hoje. O último dia da minha semana. Faço agora um resumo semanal. Acordei sozinho na quinta-feira e de lá até hoje, quinta-feira, estou sozinho.
Sozinho não é bem a palavra. Mas na falta do que escrever é a que mais me define. Quem escreve ao lado de alguém se perde na angustia de não se transparecer. Então, me transpareço e que venha a segunda semana, mas não venha rápido. A rapidez de uma semana equivale a insegurança dos meus dias de poeta. Vago.

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