domingo, 22 de setembro de 2013

O amor em frente a Igreja

     Estavam sentados na fonte em frente a Igreja. Faziam uma espécie de piquenique sob um teto cinza que prometia desabar em forma de chuva. Os carros passavam, as pessoas passavam, cachorros passavam. Os dois estáticos mantinham seus olhos estáticos um ao outro, sem pensar no tempo que empurrava todo o resto do mundo.
     Seguravam a mão de um jeito carinhoso, enquanto conversavam qualquer coisa que jogava em seus rostos sorrisos de felicidade. As vezes, não por vontade, talvez por fome, soltavam as mãos para pegar o alimento que repousava ao lado. A cada término de mordida, as mãos voltavam a se segurar.
     Segurança. Carinho. Afeto. Amor.
     Havia tudo ali, naquele quadro urbano, cotidiano e real.
     Eu apenas passei e sorri.
     Senti que o mundo poderia ser melhor e estava sendo naquele momento. Em frente a Igreja, sentados na fonte, se amavam de um jeito normal, nada de sublime, nada que os fizesse diferente. O que me chamou minha atenção foi a cena, de se amarem sem medo do mundo cair sobre suas cabeças.
     Não um mundo de chuva, mais de carros passando e buzinando sem precisarem buzinar. De pessoas passando e olhando como se o amor fosse vulgar, de cachorros que apenas passavam sem estranhar. Esse mundo que entram em Igrejas para crucificar os que ficam lá fora, sentados na fonte.
     Esse mundo que julga o amor de um rapaz de olhos castanhos que ama outro rapaz de olhos castanhos. Que se amam de um jeito normal, sentados numa fonte, no centro da cidade, em frente a Igreja.