sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O amor é colorido...

É engraçado como a história se repete. Não por ela se repetir, mas pelas promessas que tudo seria diferente dessa vez. Mas nunca será. Terá um novo contorno ou uma nova roupagem, mas sempre será a mesma história.
E falando em nova roupagem, nosso personagem se apaixonou por uma imagem. Mas não se sente culpado por isso, pois sabe que nasceu em um mundo voltado para o belo. E sua idéia de ética era tão estética quanto não era social. Não queria se relacionar com o ser amado. Queria apenas poder contemplar sua imagem andante. Aqueles cabelos rubros, a pele branca, os olhos verdes e as roupas.
Que roupas lindas ela tinha. Fazia combinações magistrais que levariam qualquer pessoa ao orgasmo apenas em ver aquela roupa caminhando pela cidade. Mas esse orgasmo nem sempre era possível para o nosso personagem, então ele preenchia o seu vazio com as informações midiáticas.
Sentava frente ao seu computador branco, com adesivos colados, dando um profundo ar de retrô. Sobre sua cabeça ele ligava o televisor. Pegava umas revistas. Ligava o rádio. Era uma enchente de informações que entravam pelos seus ouvidos. E as notícias também eram estéticas. Belas. Um belo selvagem, admitia. Eram mortes, assaltos, sequestros. Assassinos de ternos e gravatas matando a cidadania.
O trágico também é belo. As pernas que tremem ansiosas dentro de sua calça xadrez também são belas. Sua casa pintada de verde limão. Seu carro amarelo. Seu refrigerante de embalagem dourada. Os livros com capas brilhantes. Os brinquedos das crianças, multicoloridos. Seu desodorante com encaixe para as mãos. O televisor de tela plana. O preservativo na cor roxa. As escovas de dente com um formato que alcança a garganta. O chinelo de tiras de material reciclado. Tudo tão belo. Tão estético. Tudo não exatamente funcional.
E o seu amor pela imagem era assim também. Ele já a tinha. A imagem era um produto que ele consumia diariamente. Entrava todos os dias na sua comunidade visual de relacionamentos para enxergar aquela que era sua musa inspiradora. Essa paixão desvairada, tão cheia de coloridade.
E nesses tempos ninguém mais ouve falar de amor. O amor se vê e se revela nas palavras impressas das capas de revistas. Nas comunidades de relacionamento. Mas eu prefiro os amores estampados em outdoor, são os maiores amores que o mundo pode ver. Amém!

Um comentário: