quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nas asas de Gabriel

Sentado no parapeito do terraço do prédio mais alto da cidade, Gabriel olhava o mundo que seguia seu rumo lá embaixo. E como era engraçado ver a humanidade de tão alto. Ele, com seus olhos azuis e seu cabelo loiro encaracolado, gostava desse sentimento de não poder ver o rosto dos homens e mulheres que lá passavam, cada qual imerso em seu próprio problema.
O que achava engraçado era como cada pessoa carregando sobre sua cabeça o seu problema não se colidia com o problema do outro que vinha em sentido contrário. Mas sabia que nem sempre era assim.
Lá do alto, percebeu que dois jovens discutiam, talvez encenavam uma discussão, mas era tão certo que não. Gabriel gostaria de poder ouvir lá do alto, mas não era responsável por aqueles dois garotos, então se contentou em imaginar o que era. Talvez fosse por conta do amor que ambos sentiam pela mesma garota. Talvez fosse o ódio que sentiam por ser irmãos do mesmo pai. Embora com tantas possibilidades de "talvez", o mais correto era a certeza que era uma coisa fútil e sem sentido. Algo tão humano quanto chorar.
E Gabriel gostaria de saber o que era chorar. Tentou várias vezes e não conseguiu. A última tentativa foi olhar com certa ignorância os que caminhavam solitários lá embaixo e, ao mesmo tempo, o sol se pondo no horizonte por trás das nuvens densas e cinzas de poluição, o que dava um aspecto melancólico.
Como todos sabem, ele era Gabriel. Tinha olhos azuis e cabelo encaracolado, e isso ninguém dúvida. Não sabia exatamente quantos anos tinha, mas tinha aspecto juvenil, e isso ninguém dúvida também. Sempre teve um bom coração e ajudou a todos que pediam por sua ajuda, e estes por mais que não quisessem só lembravam dele quando outra tribulação surgia em seu horizonte particular. E mesmo com tudo isso, Gabriel queria chorar, e nunca conseguiu, tudo por conta do seu criador. Aquele que todos os dias o sufocava com pedidos de "ame a humanidade".
Mas, já era tarde. E a noite veio juntamente com os carros de luzes asmáticas lá embaixo. Era hora de partir. Gabriel não se despediu da humanidade lá embaixo. Sabia que em breve se veriam novamente. Ficou em pé no parapeito. Abriu os braços e voou.
De olhos fechados sentiu o vento da noite tocar o seu rosto, passando rápido e revirando seus cabelos loiros. Uma sensação de liberdade, como que voar fosse o que melhor pode acontecer. Contudo, foi um vôo breve, não durou mais do que segundos. Pouco antes do fim acontecer, Gabriel abriu os olhos. Estava apenas a alguns centímetros do chão. Foi então que ele se lembrou que não era anjo. Era apenas mais um suicida.

Um comentário:

  1. Mágico David :]
    Ter o céu e querer apenas uma estrela;
    Ter o oceano e querer apenas uma gota;
    Ter o mundo e não saber aproveitar !

    Quero que Deus te ilumine, pra que você possa fazer cada vez mais textos lindos.
    Beijão =*
    Te adoro !

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