sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Alguns dos meus Eus

Imerso em sua vida, Sandoval, meu heterônimo depressivo, buscava pacientemente, em algum lugar dentro de si, sair da cama em que estava deitado há mais de dois dias. Procurou no cérebro estagnado em memórias tristes e por estar nesta estagnação nada encontrou. Procurou no coração amargurado pelas dores dos amores cotidianos e por estar nesta amargura nada encontrou.
Sandoval decidiu ficar mais alguns minutos ali, esperando que algo de fora pudesse mexer no seu mundo. Mas como as mudanças entrariam no seu mundo se ele estava fechado dentro de um quarto de portas e janelas trancadas? Talvez algum espírito ou uma alucinação. Foi quando saiu de dentro do guarda-roupa uma combinação de ambas.
E era ele mesmo, ou eu mesmo, ou um outro de nós dois.
Anelise. Olhos de um castanho escuro. Lábios carnudos. Cabelo curto. Era o meu hererônimo histérico. Disse que estava tentando sair dali e puxar conversa há dias, mas não sabia o que poderia esperar. Ficou com medo de não ser aceita ou não ser entendida. Suas mãos estavam trêmulas tanto quanto sua fala. Sentou-se na cama ao lado de Sandoval e deixou que seus pés também ficassem trêmulos. Perguntou se existia naquele quarto escuro algum destilado forte. Sandoval afirmou que não.
Ficaram mudos por um bom tempo, até escutarem alguém batendo na porta. Quem seria? A porta se destrancou rápida e parecia algo mágico, pois a chave se movimentou sozinha. Quem entrou foi um ser radiante e com um sorriso largo. Adalberto, meu heterônimo maníaco.
Perguntou onde estava a alegria deles. E porque se perdiam em problemas. E porque não paravam de pensar que os problemas eram maiores que as soluções. Era uma felicidade sarcástica, uma alegria ácida. Queimavam as roupas de Anelise e Sandoval. Adalberto era realmente radiante. Como uma criança pulava em cima da cama e deixava seu corpo cair e ria muito.
Sandoval continuava com o olhar perdido e sem vida.
Anelise continuava a ficar trêmula e perdida em fantasias.
E os três não notaram que o meu verdadeiro eu os espiava de dentro do espelho.
Alguém me define?

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