quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Grão de mostarda

     E de repente parei o meu carro. Mas a poeira da estrada de barro rapidamente me alcançou e seguiu o seu caminho. Mas eu tinha que parar e ver aquela imensa plantação que beirava a estrada estreita que levava a algum lugar que eu não sabia bem onde.
     Decidi pegar estradas assim depois que descobri que tenho um tumor na cabeça. Tenho três meses de vida. Na verdade agora tenho apenas um mês. Queria jogar tudo para o alto e ir viver a vida que nunca vivi, mas talvez o tumor tenha me feito pensar. O meu tumor... vou falar com sinceridade. O meu cancêr cerebral foi criado pelo meu racional que nunca me deixou sentir.
      Meu deus!
     Olha eu aqui na beirada de uma estrada estreita, com meu tênis coberto de poeira tirando a minha culpa e jogando para algo que... o que me basta é suspirar. Meu cancêr, criado por mim. Dentro de mim. Dentro da minha cabeça. Corroendo o que eu tinha de melhor, meu intelecto e o meu modo de explicar a vida. Se eu fosse um idiota sentimental, talvez... não! O coração não tem cancêr.
     Meu deus! Só me restam quatro semanas e eu aqui com minha lamentações. Nessa estrada estreita com essa imensa plantação de mostarda me fazendo convites para ver o mundo com outros olhos e eu aqui olhando mais uma vez com os olhos da razão.
     Nunca havia visto uma plantação tão linda assim. Um imenso mar amarelo que mexe com o toque leve do vento. Que não se cansa de mostrar sua beleza. Uma plantação de mostarda. Fico com vontade de rir. Pensando que minha imagem da mostarda até então era um tubo transparente repleto de uma pasta amarelada sobre a mesa de uma lanchonete.
     Eu e minha vida moderna.
     Agora, lá ao longe um homem de camisa xadrez me chama. E percebo que o tempo corre rápido. Quando comecei a escrever estava no passado e de repente me vejo no tempo presente, sendo chamado por um senhor desconhecido. Cabelos cinzas e sorriso de quem sabe viver ou sabe fingir muito bem.
     - Tarde, moço! Posso ajudar? - Disse ele com sua voz carregada de sotaque do interior.
     - Boa tarde! Me desculpa, mas só estava vendo como é linda sua plantação de mostarda. Gostaria de carregar ela para sempre. Embora meu "sempre" é tão breve!
     - Quanta amargura. Devia sorrir mais do que ficar apenas se sufocando. Pegue aqui essas sementinhas de mostarda e plante na sua casa. Se cuidar bem vão ser plantas tão belas quanto essas. Mas agora o senhor poderia ir andando que assusta a vizinhança. Sabe o que eles falam dos homens da cidade, não sabe?
     - Tudo bem! Agradeço as sementes.
     Dei meia volta. Entrei no carro e comecei a acelerar lentamente. E eu pensando que aquele senhor iria me dar uma lição de moral. Uma lição de vida. Falar da passagem bíblica que diz que quem tem a fé do tamanho de um grão de mostarda pode remover uma montanha. Então eu iria pensar.
     Pensaria algumas semanas e descobriria que não tinha fé na vida, na cura e nas possibilidades de crescer. Minha fé não chegava nem a um terço do grão de mostarda. Descobriria que minha montanha é o meu cancêr cerebral. E então como um toque de mágica passaria a ter fé. E um dia antes de morrer iria fazer meu último exame e veria que o tumor não existia mais. Que eu estava curado.
     Mas eu sou apenas um ser humano que espera que os outros me falem de lições de vida. Que espera encontrar um senhor de meia idade que me diga palavras de sabedoria. Mas o meu senhor apenas me deu grãos de mostarda que eu joguei no chão do carro e nunca floreceriam. E no final de quatro semanas eu vou morrer na paz de quem não teve fé suficiente e não enxergou os sinais que a vida dá.
      Eu não movi a montanha. Deixei que ela desabasse sobre mim...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Preguiça de estar triste

    Meus olhos se enchem de lágrimas.
    Não é tristeza. Toda vez que vem um bocejo meu olhos se inundam dessas partículas de água salgada. Chega a ser irônico. Não estou triste, estou com sono.
    Meu corpo está cansado pelos dias que se passaram. A correria do dia a dia me cansa. Não sigo um cotidiano repleto de mesmices, talvez por isso esteja cansado. Não sei exatamente a causa disso tudo. Minha rotina não é rotineira.
    Penso que ontem, um sábado que...
    Quer saber?
    Estou cansado de estar triste!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Esboço para uma história

     Sentado na mais alta colina, com olhos de águias, é fácil ver a destruição e devastação de um mundo em que tudo poderia ser diferente se todos resolvessem apenas sentar em uma mesa redonda e conversar como seres civilizados e sem pretensões de poder e de conquistas territoriais.
     Olhar de cima da colina tudo aquilo é muito fácil. Ver a fumaça subindo trazendo consigo o cheiro de corpos queimados, do sangue derramado e das lágrimas de quem perdeu e de quem venceu, pois é difícil acreditar que alguém pode sorrir numa guerra. A guerra sempre traz a idéia de derrota, mesmo para aqueles que se dizem vitoriosos.
     Então acendo um cigarro com o pouco de erva que ainda sobrou. Algo não muito fácil de encontrar entre as batalhas. Geralmente os veículos pesados passam por cima delas sem prazer algum, sem ódio algum, pois apenas passam. E aqueles que saboreiam o sabor de uma erva fina e a fumaça que dela sai, estes sim sentem o prazer de ver que nem todas foram destruídas, estes sim sentem o ódio em ver que a maioria foi destruída.
     A erva roxa, colocada dentro de cascas das amêndoas, e agora enrolada no que sobrou de um oficio de alguma das partes em guerra, me dá a sensação de que aquela guerra que eu presenciei foi a ultima. A última dessa minha vida inútil. Estou tão cansado de idas e vindas entre os lados em conflito que acredito não ter mais pernas, ou asas, firmes para desenvolver um bom papel de espião.
     Sim, eu fui espião desde o primeiro dia de guerra. O mais excelente dos espiões, já que trabalhava para os dois lados. Sou um mercenário das informações e não tenho vergonha disso. Tenho vergonha de não ter solicitado mais dessas pedras e metais preciosos, que agora só valem para eu comprar um pouco de dignidade, mas nada de confiança. Você confiaria em um espião que admite este fato? Eu não confiaria, e tenho certeza absoluta disso.
     Talvez você queira saber da minha vida. Talvez queira saber da guerra. Talvez não queira saber de nada e não vai me dar ouvidos. Talvez você queira saber de tudo e vai me dar algumas moedas ao final dessa história que eu vou te contar. Não que eu queira, mas seria justo, já que você está consumindo meu valioso tempo, está respirando a fumaça que sai dos meus pulmões e que tem muito dessa erva que nos leva a uma paz de espírito doentia.
     Quem sabe eu não sou um doente? Seria bom olhar por essa perspectiva. A perspectiva de um velho espião alado, de botas furadas, calças de pano cinza rasgadas, com as penas do peito já esbranquiçadas. O que eu sei é que essas histórias de guerras entre mundos, entre reinos, entre pessoas já estão cansadas de serem ditas. E que qualquer um pode escrever sobre elas. Mas ninguém pode contar as mentiras sujas, que não são nada românticas, tão bem quanto eu.
     Eu já te disse que participei dos dois lados? Se é que posso dizer que eram apenas dois lados em conflito. Pois esse mundo todo que se perde por trás do horizonte entrou em guerra, para ver quem iria dominá-lo da melhor, ou pior, maneira. Todos eles tinham arqueiros, todos eles tinham a melhor linha de frente que poderiam formar, e todos eles tinham a mim, como seu mais justo e confiável espião. Não me odeio por isso, pois fui realmente justo e fui realmente confiável nas informações que eu passei.
     Mas bem, acho que estou me enrolando para começar essa história. Eu gosto muito de falar sobre mim e sobre minhas habilidades, mas acho que vai ser melhor eu falar como se eu fosse outra pessoa contando a história. O que você me diz? Algo assim, mais impessoal, mais distanciado. Se bem que qualquer história contada nunca será impessoal, e é bem capaz de você perceber que nessa história eu deveria ser o grande vencedor da batalha. Sim, existiu um vencedor. E isso irá ficar para o final. Ninguém gosta de saber o resultado de um jogo antes dele terminar, certo?
     Então posso dizer que tudo começou quando deveria ter começado. Em um dia da estação onde as folhas caem das árvores e fecundam o chão, dando origem a novas árvores. Eu adoro esta estação. As cores avermelhadas são uma delicia de serem vistas. Lembro uma vez de uma garota que conheci em baixo de uma árvore bastante frondosa. Esta árvore resolveu entrar na estação antes das demais e veja só, fecundou essa garota e ela criou raízes profundas.
     Isso é verdade. Às vezes eu passo por ela e vou podar alguns galhos para que ela não adoeça. Eu poderia ter casado com aquela garota. A sim, eu poderia. Quer um cigarro? Não fuma? Menos mal. Assim é capaz dele durar por toda a história.
     Certo, a história. Eu fujo muito do foco, tenho essa desatenção, sabe? Tem uns amigos meus que dizem “Aladino, você deixa seu pensamento bater asas mais rápido que você mesmo pode bater”.
     Não estranhe a minha risada. Parece um soluço, não concorda? Tenho raízes para você mascar. Pegue um naco desta. Você vai sentir seus ouvidos se abrirem. Já está sentindo o resultado? Eu sabia. Estou sempre certo em relação a ervas, raízes e folhas que fecundam. Aprendi com uma feiticeira. Pobre, morreu por ter escolhido o lado errado da guerra. Ou por ter sido criada do lado errado, o que seria mais correto eu te dizer. Mas quando for hora de contar sobre isso, ela vai voltar a viver, pelo menos nas minhas palavras.
     Vamos à história. Tudo aconteceu quando tinha que acontecer. Na estação das folhas que fecundam o solo. Eram dois reinos que sempre estiveram em guerra, mas que um dia resolveram acabar com ela e decidir quem seria o grande vencedor. Mas, devido aos anos de guerra, ambos os lados estavam sem soldados e encontraram nas profecias dos velhos reis uma forma de decidir isso. Foi assim que descobriram os buracos de minhoca e nossa história começa a ser contada.

***

Nota: Essa história nunca foi terminada, mas achei interessante postar aqui ao invés de jogar na lixeira.

domingo, 17 de janeiro de 2010

... e avante!

     E ele não era filho de bruxos, muito menos filho de deuses. Há quem diga que seria estranho acreditar que ele era um vampiro ou um lobisomem juvenil. Não, ele também não era seguido por cavaleiros. E nunca participou de uma sociedade que precisaria destruir um anel.
     Ele era apenas um ser humano normal. Ou deveria ser um ser humano normal. O fato é que tinha alguns poderes, mas por ser isolado dos outros humanos ninguém sabia. Ninguém ao menos desconfiava a força que passava pelas veias daquele jovem garoto de dezesseis anos.
     E eram poderes fantásticos se bem lembro.
     Tudo começou quando nasceu. Parto normal. Seu primeiro desafio. Nascer. E nasceu bem, com saúde. Era o sétimo filho de um casal que morava no suburbio pobre de uma metrópole desorganizada. E teve que crescer na pobreza. Com um pai que bebia e batia na mãe. Com uma mãe que apanhava e dava grande parte do seu salário à igreja para conseguir uma vaga no coração do Criador.
     Foi nesse contexto que seus poderes apareceram. Criados um a um pela necessidade de crescer.

O primeiro poder: Sobreviver à fome.

    Pouco se tinha para comer. O dinheiro que o pai não bebia e a mãe não dava servia para pagar algumas contas e o restante servia para o alimento, que por conta destas questões era pouco. Muitas vezes o que sobrava para ele era o caldo de feijão. Quando cresceu um pouco, descobriu o lixão e a mesa ficou farta.

O segundo poder: Crescer

     Não cresceu muito. Mas conseguiu chegar a uma estatura considerável. Tinha os braços fortes das latas de água que buscava numa bica que ficava longe da sua humilde casa. Sem contar das brigas que tinha que vencer para continuar a crescer. Todos os dias apanhava muito, e quando desmaiava rápido não apanhava tanto. Era o seu principal golpe.

O terceiro poder: Imunidade ao frio.

    Quando completou doze anos resolveu sair de casa. O pai havia morrido de cirrose e a mãe estava tendo um caso com o pastor da igreja, que agora levava todo o dinheiro dela. O homem gordo de terno e gravata batia na mãe com a bíblia. Sentia raiva da situação por não poder vencer apenas desmaiando, então resolveu ir sem dizer adeus. E morou embaixo do viaduto e continuava indo ao lixão. Não iria nunca roubar para se alimentar. A unica roupa que tinha e o unico cobertor que tinha o fizeram ter esse terceiro poder. Nas noites de frio se aquecia com as folhas de jornal e foi neles que aprendeu a ler. Não sozinho, mas com a ajuda de um velho com quem dividia o viaduto.

O quarto poder: Sonhar.

     E ele era um sonhador. Sonhava em sair daquela situação. Achava impossível. Queria ter um trabalho digno, ter mulher, filhos e um carro. Qualquer um desses que passavam no viaduto. Queria uma mulher trabalhadora que acreditasse na vida. Ter dois filhos que ensinaria o poder de viver. O poder de crescer. O poder de não ter frio. E o poder mais importante, o poder de sonhar.

***

     E foi como em um sonho que tudo mudou. Um dia ao ser atropelado por um cidadão teve a certeza que tudo mudaria. Sentiu o sangue subir a garganta. Sorriu. Estava morrendo. Então aquilo ali era morrer. Estaria livre para nascer em outra condição.
     Mas não morreu. Com os poderes que tinha não seria fácil assim morrer. O mesmo homem que o atropelou era professor universitário e tinha alguns poderes. E o principal de todos era o de dar oportunidades. E após a alta do garoto, ofereceu abrigo, alimentação, bolsa de estudos. Em resumo, apenas uma oportunidade.
     E hoje há quem diga para este velho morador de viadutos que o garoto estuda em uma escola no alto de um edifício. E quem o escuta subindo pelo elevador sabe que ele sussurra:
     - Para o alto e avante!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Não me diga adeus!

     Sai do banho e a vi deitada na cama. Olhei as curvas perfeitas do seu corpo contornadas pelo lençol. A garrafa de vinho branco aberta e a taça tombada no chão. Dormia?
     Cheguei de modo lento. Peguei a taça e enchi com o resto do vinho que sobrara. Senti o cheiro e dei um pequeno gole. Seco. Fiquei olhando o corpo dela enquanto bebia. Era belo. Bronzeado pelo sol de domingo. Então ela se virou.
     Olhou com aqueles olhos de jabuticaba. Doces e infantis. Deu um leve sorriso com seus lábios suavemente avermelhados pelo batom. Pediu para que eu deitasse ao lado dela. E foi o que eu fiz. E senti o corpo dela me envolver pelo calor que ele transmitia.
      Senti saudades de um tempo que não volta mais. De quando andávamos juntos. O problema é que andávamos em direções opostas. Então, olhei nos olhos dela mais uma vez e vi que não podia trazê-la para minha vida confusa e inconstante. Não podia dar ao luxo de fazer com que ela sofresse novamente.
       Ela estava bem agora. Tinha objetivos bem definidos. Eu era apenas um perdido no mundo, bebendo e fumando. Participando de encontros intelectuais. Projetos de pessoas solitárias que desejam muito estar ao lado de um grande amor.
       Sei que poderia ser diferente se eu já estivesse diferente. Mas ainda não estava. Espero que quando chegar o dia em que serei mais constante ela já não tenha ido embora com outro alguém. Eu a amo e ela sabe disso. E ela também sabe que as vezes uma crônica é só uma crônica. E ela também sabe que as vezes sinto saudades de escrever crônicas romanticas.
       O que talvez ela não sabe é que tenho medo de me perder e viver uma vida que até agora não me permitir a viver. Uma vida de amor pleno, sem cobranças e sem pessoas dizendo adeus.
       Por favor, não me diga adeus!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O ônibus que chega

     Escutou o barulho dos pássaros cantando. Sorriu.
     Deixou os ouvidos se acostumarem e se arrependeu. O intenso fluxo de carros invadiu os ouvidos e o mundo ficou de cabeça para baixo. Sentiu o estômago embrulhar, como se houvesse levado repentinamente um soco de algum lutador de boxe peso pesado. O sorriso foi embora.
     Levantou-se do banco e sentou no mesmo. Olhou no relógio e não se surpreendeu. Faltavam dois minutos para o ônibus chegar. Esticou o tronco para frente. Lá vinha ele. Ajeitou o cabelo, arrumou a roupa que estava um tanto amassada. Tirou uma goma de mascar do bolso, mas resolveu devolvê-la.
     O ônibus chegou.
     O ônibus se foi.
     Ele ficou ali estático. Sem saber bem o que fazer. Deveria ter entrado, mas suas pernas e seu corpo não obedeceram. Jogou a pasta de documentos importantes em um lado. Tirou a gravata. Tirou o paletó marrom. Tirou o sapato e as meias.
     O chão de concreto era gelado. O cheiro da cidade era podre. Mesmo assim abriu os pulmões para ele. Correu como nunca, de braços abertos para o nada. Ou para a liberdade.
     Lembrou-se de quando era criança. De quando era um adolescente. De quando corria sem qualquer medo atrás da vida, e agora ele estava correndo dela. Do modo como ela havia o sufocado. Estava sorrindo enquanto todos aqueles, os que iam acordando aos poucos e invadindo as ruas da cidade, olhavam incrédulos.
     Ficou nesse estado até o anoitecer, quando resolveu voltar ao ponto de ônibus. Ao seu ponto de ônibus. Onde dormiu.
     Escutou o barulho dos pneus dos carros cantando em contato com o asfalto. Sorriu.
     Tinha que ter uma desculpa.
     O ônibus chegou.
     O ônibus se foi.
     E a vida voltou a ser do mesmo jeito.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Minha vida se repete

     E então ele acordou tarde.
     Olhou para o teto branco. O ventilador ligado fazia circular o ar quente dentro do quarto. O lençol estava amarrotado. Não quis se levantar. Não quis colocar a roupa e sair para fazer algo de sensato.
     Pegou o celular. Olhou as mensagens e as ligações não atendidas. Não havia nada dela. Dificilmente havia algo dela naquele pequeno espaço que ele chamava de vida. Jogou o celular no chão e pensou estar flutuando em sua própria depressão.
     Depressão? Não, apenas uma profunda tristeza. Não queria ter ou estar ou carregar consigo os transtornos psicológicos da moda. Não era bipolar, não era depressivo, não obssessivo-compulsivo. Era apenas o garoto que havia se apaixonado por uma garota que nem sequer sabia que ele existia.
      Era tão clichê aquilo que causava ânsias. E então vomitou.
      Ficar bebendo até as cinco da manhã para esquecer alguém que sequer lembrava dele não havia sido uma boa alternativa. Estava tentando convencer a quem? Estava tentando fugir de quem?
      A garota. Numa pintura de Van Gogh, na musicalidade de Bob Dylan.
      E ele ali deitado, flertando com seu corpo embriagado de vinho tinto. Tateou o criado-mudo. O maço de cigarro estava vazio. Deveria levantar e comprar outro? Achou uma péssima idéia, mas se levantou. Juntou o celular do chão.
      Ainda de cueca, foi a cozinha e preparou um café preto. Forte. Com açúcar. Glicose sempre ajudava. Foi até a porta da frente e pegou o jornal do dia. Sentou-se na pequena mesa. Abriu o jornal e tomou um gole de café.
      'Que droga', pensou, 'sempre as mesmas notícias'.
      Deixou tudo ali.
      Olhou o celular mais uma vez. Ficou olhando e pensando.
      Talvez se ele se esforçasse para existir no mundo dela, ela simplesmente saberia que ele existia. Mas agora?
       Agora ficaria apenas com a saudade da imagem dela. Da sonoridade.
       Ficaria mais um dia de braços dados com sua falta de coragem...
       'Quem sabe amanhã?'
       E a xícara se deixou cair. O líquido preto refletiu a imagem dele se misturando com as letras do jornal.
       'Que droga, sempre a mesma imagem, na mesma vida, com as mesmas notícias'.
       Nessa vida que não cansa em se repetir.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Meu primeiro e-book

     Tim, como gosta de ser chamado Timóteo, é um homem solitário que tem como seu melhor amigo um velho maverick 1973, motor V8, na cor preta.
     Em uma noite, entre a fumaça do cigarro e o asfalto da rodovia, começa a repassar sua vida amorosa, em curtos episódios de 'esquizofrênia sentimental'. No breve espaço do banco do passageiro suas ex-mulheres vêm ao encontro das memórias que Tim precisa reviver para seguir em frente nessa sua longa rodovia que apelidou de solidão.

Um livro escrito por Dave C. Buks (heterônimo de David Tiago Cardoso).

Para download acesse o link abaixo:
[http://migre.me/fPa6]

Abraços!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A classe que faz média usa crack

     Andando na rua, por entre a sujeira do fim de ano e os jornais deste novo ano que se inicia, eu vejo mais do que apenas lixo material. Vejo um lixo sentimental. Pessoas escondidas por trás de uma moral vencida, de uma ética distorcida. E apenas vou andando.
     Se eu fumasse acenderia um cigarro. Se eu bebesse levaria o meu cantil com uísque. Mas eu apenas ando e me levo. Ando e olho a cidade. Ando, olho e penso sobre a cidade. Ando, olho, penso e reflito sobre todos aqueles que vivem nesta cidade. Se eu respirasse sentiria o cheiro da falsa normalidade que é posta a mesa da classe média.
     Passo por um pedinte. Ele me pede algumas moedas. Está mal vestido. Está fedendo. Uma mistura da degradação da sociedade com a sua própria responsabilidade de ter feito escolhas que sairam erradas, ou que não foram as mais acertadas. Eu não tenho moedas. Nunca tenho. Para pedintes, nunca existem moedas no meu bolso. Deixo ele ali, com a mão esticada para o próximo da classe média que ao passar talvez se compadeça e jogue alguns centavos.
     Eu apenas sigo o meu caminho. Andando na rua. Pensando na classe média.
     Então passo por um adolescente. Bem vestido. Não sei se fede, mas não parecia. Uma mistura de uma sociedade que educa com a sua própria responsabilidade de um dia começar a fazer suas escolhas. Essa classe média é divertida, sempre faz escolhas acertadas. As erradas? Culpa dos outros. Nunca dela. O garoto me pede moedas, para fazer um lanche. Não é do bairro e está com fome. Pobre garoto.
     Abro a carteira e dou uma nota de cinco. Ele sorri. Agradece e caminha na direção contrária. Na direção contrária ele segue. Andando em direção ao pedinte. Na direção que a classe média não quer que ele siga. O adolescente vai seguindo na direção em que vai se encontrar com o pedinte.
     Eu apenas olho. Estático. Eles se encontram. Saem em direção a qualquer lugar. Voltam depois de alguns minutos breves. Eu, estático. Estão com uma lata. Vão fumar uma pedra de crack. O garoto, com a latinha na mão, se chama classe média. Eu, estático, reflito.
     Reflito que até então só os pobres e miseráveis usam crack. E então não era problema da classe média. Mas essa classe que faz média, agora também usa crack. E agora pelos jornais deste novo ano novo eu vejo campanhas que combatem o crack. Certo? Errado? Tanto faz. Agora é problema da classe média.
     De quem é a culpa?
     A classe média diz que a culpa é do pedinte.
     Então tá!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009: O que ficou, mas nem tudo!

Janeiro:
- Expectativa de iniciar no emprego de psicólogo em Luiz Alves;
- Frustração por cancelarem a contratação;
- Desempregado.

Fevereiro:
- Venda de instrumentos musicais e móveis para entrar na Clínica de Psicologia;
- Imprimir primeiros cartões.

Março:
- Primeiro atendimento na clínica;
- Busca por trabalho voluntário (Instituto Crescer);
- Aniversário do Gustavo - presente: livro Zack Power;
- Crio meu perfil no Twitter.

Abril:
- Primeiros contatos para ser psicólogo do Institito Crescer;
- Nada vai bem no lado afetivo, ficando cada vez mais consciente disso.

Maio:
- Compra do livro "Psicoterapia e Relações Humanas" num sebo virtual;
- Uma amiga fala de uma vaga de Psicólogo numa ONG, nada de concreto;

Junho:
- Inicio como psicólogo do Instituto Crescer;
- Abro uma conta do Blip.fm (http://blip.fm/DavidBrak)
- As monografias que comecei a orientar estão finalizadas;
- Meu noivado/namoro rompe de vez, sem voltas.

Julho:
- Inicio meu primeiro romance que conta a história de um velho dentro de um maverick e sua angustias e memórias amorosas;
- Faço cadastro no "Clube dos Autores" (http://clubedosautores.com/)

Agosto:
- Os atendimentos na clínica começar a se consolidar;
- A solidão de solteiro me faz bem;

Setembro:
- Aniversário de 25 anos, me sinto feliz;
- Decido fazer a prova do mestrado na UFSC;
- Abro uma conta no Recanto das Letras;
- Este blog é criado.

Outubro:
- A turma de psicólogos formada em 2006 resolve marcar uma confraternização;
- Decisão de trabalhar melhor a comunicação visual dos meus serviços;
- Tinti diz em alto e bom tom no Rabiscos: O David está de volta!

Novembro:
- Começo a me envolver com novas garotas, sinto que ainda não é hora de um novo namoro;
- Encontro da turma de psicólogos formada em 2006, local foi a Expresso em BC;
- Encontro da turma da biblioteca aqui em casa, muita bebida e muita comida.

Dezembro:
- Tinti e eu iniciamos nossa maratona noturna;
- Formatura de Farmácia na farmácia e depois deixando as pessoas na mão;
- Ganho um marca-página da Mari antes da formatura;
- Conheci a Luana, a garota que ia na biblioteca e eu sempre quis conhecer;
- Dei presentes de natal:
1. Uma carteira pro Rani;
2. Um livro pro Guga;
3. Uma caneca de chopp pro Pai;
4. Um chapéu pra Mãe;
5. Um copo de cerveja pra Tinti;
6. Um livro pra Mari;
7. Um livro sobre o Holocausto pro Wagner;
8. Uma blusinha pra Jennifer;
- Ganhei presentes de natal:
1. O Pequeno Principe - Ed. Especial da Mãe, do Pai e do Guga;
2. Uma camiseta do Rani e da Jennifer;
3. Um kit para comer sushi do Wagner;
4. Um livro da Tinti;
5. Um DVD e Pinturas da Mari.
- Virada de ano em BC com a Tinti e o Átila;
- Começo a fazer a retrospectiva 2009...

Muitas coisas faltam nessa retrospectiva, mas estão aqui alguns eventos importantes, os demais serão lembrados com o tempo e provavelmente virão a ser crônicas postadas neste blog.
E que 2010 seja tão intenso quanto foi esse ano que passou...

Nas reticências cruas e cotidianas esse blog deseja a todos força para que possam alcançar seus objetivos e crescer enquanto pessoas!

É isso!

2010: 2000 em 10

Cai uma chuva forte lá fora. Seriam as lágrimas do ano que se vai?
Nem sempre lágrimas são de tristeza, não é verdade? Tem dias que deixo minhas lágrimas de alegria, minhas lágrimas de surpresa e até mesmo as lágrimas de visão cansada cairem. Todo fim de ano é sempre igual. Muitas coisas foram realizadas e outras foram simplesmente esquecidas ou não puderam ser realizadas por inúmeros fatores.
Vou tentar fazer minha lista de 10 coisas que buscarei fazer em 2010.

1. Consolidar na área de Psicologia Clínica;
2. Obter resultados positivos no meu [Stand-up Organizacional];
3. Comprar um apartamento;
4. Viajar de mochileiro para Europa;
5. Publicar meu primeiro livro no formato e-book;
6. Comprar uma bateria;
7. Voltar a tocar numa banda;
8. Terminar de escrever meu segundo livro;
9. Encontrar um amor verdadeiro;
10. Fazer uma lista de 11 objetivos para 2011...