terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nesse sistema financeiro de Amar

     E de repente me vi na fila de um banco privado. Muitas pessoas segurando de modo firme suas moedas. Era a fila de depósitos. Quis fumar um cigarro para baixar a ansiedade, mas lembrei que não podia. Quis tomar uma cerveja, mas lembrei que também não podia. Cortes necessários para cada vez mais sobrar moedas.
     Lá estava eu, com as mãos suadas e o corpo agitado. Estava com pressa e a fila se quer se movia. Deu tempo para preencher o cheque. Sim, eu estava decidida a depositar mais do que as minhas moedas. E o tempo do relógio que estava sobre a cabeça dele continuava se arrastando. Cada minuto parecia uma semana.
     Eu olhava os lindos olhos dele. O movimento das mãos contando suas próprias moedas. Um sorriso de menino e a barba por se fazer. Eu queria que ele estivesse me esperando. Esperando apenas a mim, para receber minhas moedas e meu cheque. Ele era o meu banco particular.
      E de repente me vi sozinha, sem filas. Não enxergava mais pessoas e continuava não querendo os cigarros e as cervejas. Eu só queria que meu coração parasse de acelerar, que minha barriga deixasse de ter aquele frio e que meu peito não apertasse tanto. Não tinha tempo para mais nada.
      Ele me olhou com ternura, mas não com paixão. Falou com a voz firme, sem aquela doçura de carinho. As mãos, quando vistas de perto, não brincava apenas com suas próprias moedas. Seriam moedas de quem? Seriam outras moedas? Estava confusa, caminhando sem direção, seguindo uma única direção. Os braços dele. E ele me chamou.
       - Próxima...
     Não me senti feliz. Eu era apenas a próxima e não a única. Olhei rapidamente a minha volta e todos estavam lá novamente. Atrás de mim, segurando suas moedas. Eu não era a única, era a próxima. Mas não vacilei, com passos de menina cheguei próximo dele.
Uma por uma fui entregando minhas moedas. Duas de respeito, uma de vaidade, três de ciúmes, dez de carinho, vinte de paixão, duas de verdade e... onde estavam minhas moedas de companheirismo?
      O coração acelerou ainda mais, querendo parar de cansaço. Minha respiração ofegante. Percebi que ele olhou por sobre meus ombros querendo enxergar a próxima. Mas essa era minha chance de ser a única. E lá estavam elas, dentro do meu bolso esquerdo do meu casaco. Só as descobri ali porque as batidas do coração as fizeram mexer. Como se meu coração dissesse:
       - Você tem muito a dar para companheirismo, menina!
     Peguei minhas trinta moedas de companheirismo e entreguei ao meu banco privado. Antes de sair coloquei em suas mãos o meu cheque especial. Estava destinado a ele, cruzado. Só ele poderia trocar. Naquele cheque a quantia justa: Muita esperança.
      Dei um sorriso para ele e sai. Não escutei ele chamando a próxima. Porque não houve próxima. O banco estava fechado naquele dia que insistia em não acabar. Mas se você pensa que depositei tudo o que eu tinha nesse alguém, você está enganado. Eu sei que com ele minhas moedas podem ter lucros gigantescos.
    Mas não se deposita todas as expectativas e sentimentos. Apenas o necessário para ser inesquecivel, para ser justo, para ser único. Se minhas moedas de companheirismo, respeito, vaidade, ciúmes, carinho, paixão e verdade não forem suficientes posso te dizer que sou minha Casa da Moeda, sou uma fábrica de moedas, assim, igual a você. Hoje estou aberta apenas para ele. Nesse gigantesco sistema financeiro de amar.

*****

Crônica a pedidos de @DeboraahSoares por ter encontrado A frase na carta.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A frase na Carta

Oi,


Tenho que confessar que sou melhor com palavras escritas do que palavras ditas e não consigo encontrar um método melhor para expressar meus sentimentos nesse momento do que escrever essa carta.
Peço desculpas por não estar te olhando nos teus olhos e falando tudo o que existe para ser dito. Pode me considerar um fraco, um covarde, não me importo. Apenas gostaria que você lesse até o fim, mas se não quiser não fico descontente, pelo menos você sabe que eu tentei, do meu jeito, mas tentei.
Com essa carta, alias, quero transcender os sentimentos e desabafar. Falar sobre o que estão dizendo, pessoas que imaginava que entenderiam meu sentimento por ti, mas que ao contrário preferiram falar coisas que são inverdades. Deve ser porque me conheceram na época errada, mas isso para mim é desculpa que eu arrumo para não me chatear ainda mais com essas pessoas. A verdade é que essas pessoas desacreditaram no amor.
Mas tenho a sorte de ter encontrado nesses últimos tempos pessoas que buscaram conhecer quem eu sou de verdade, e não ficaram apenas na superficialidade. E procuraram conhecer um Eu diferente, que apenas queria se deixar descobrir. Talvez pelos anos atuando queira que as pessoas descubram que não sou apenas o que deixo parecer. Que sou maior que minhas atuações baratas.
Após o buquê de flores muita coisa mudou. Alias, após ter confessado para nossa amiga, dona e contadora de números, eu sabia que de alguma forma eu deveria começar a transformar esse sentimento em algo concreto. Então venho à sucessão de acontecimentos. Cinema, buquê e cada vez mais revelando os sentimentos. Do meu jeito torto, confesso. Mas ainda sim verdadeiros.
E então vieram as críticas, as preocupações e as distorções dos meus atos. Colocaram meu sentimento em uma balança própria e jogaram a minha em um canto. Poucos se preocuparam em saber o que era de mais verdadeiro nos meus gestos. A verdade é que meus sentimentos de afeto, de paixão e de cuidado são de sinceridade, que de tão sinceros me parecem redundantes.
Não sei o que você pensa disso tudo. Nem a visão que tem de mim e de tudo que está acontecendo. Não sei se chegou a ler até aqui. Mas saiba que sou um apaixonado pela vida, sou crítico, sou romântico, sou sarcástico, sou emotivo e sou persistente. Não dou flores a quem não tenha uma profunda admiração, carinho e respeito. Digam o que disser, eu sou apaixonado por ti.
E é por ser apaixonado, não vou fazer nada para te prejudicar. Nada que atrapalhe a tua vida. Eu me dei a possibilidade de escolher “e eu escolho nós dois”. Se eu sei as consequências? Posso imaginar, mas a minha vida inteira foi construída dentro das impossibilidades. Era impossível ser psicólogo. Era impossível clinicar. Era impossível eu escrever um livro. Era impossível trabalhar ao lado do meu pai. E agora dizem que é impossível namorar você... mas pela primeira vez dependo de alguém para tornar a impossibilidade possível.
Eu tenho calma. Tenho paciência. E não preciso de uma resposta... porque não faço perguntas. Só precisava desabafar de alguma forma pra ti. Agradeço e remeto desculpas por isso.



Beijos do jardineiro fiel.




* Como sempre tem algo escrito além do escrito! Encontre e post aqui. Estando correta pode pedir um tema de uma crônica.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Projeto: A sua vida na minha crônica

Sentado frente ao computador esperando uma transpiração criativa escorrer da minha mente, descer pelo meu cérebro e medula até movimentar meus braços e mãos para escrever algo que realmente vale a pena ser lido. Olho fixamente a tela que se move, mas meus olhos não conseguem captar. Minha cabeça dói, meus olhos ardem e o som da televisão ligada tenta me irritar, mas ainda consigo ignorar. Sem qualquer personagem novo para uma crônica, um poema, uma frase.
Então, eu quero você. Que sejas meu personagem. Quero a sua vida na minha crônica. Não vai doer. Posso apenas distorcer. A sua vida será minha e será eternizada na minha crônica e na memória breve de quem leu. Não quero sua vida toda. Quero um retalho. Algo que me faça construir você. Por alguns instantes eu serei uma parte de você.
Enquanto não recebo resposta, fico sentado na frente do computador esperando...

Envie-se em fragmentos para o e-mail: vcnacronica@gmail.com ou poste aqui!
Se quiser seu nome será preservado!
Escolha um fragmento que te escrevo uma crônica que será publicada no blog e no Recanto das Letras [http://migre.me/14o3z]

Boa sorte!

sábado, 19 de junho de 2010

Dia do Eu Perdi

Hoje foi um dia especial e por ser especial eu decedi chamá-lo como o "Dia do Eu Perdi". Este é um dia particular do meu mundo, e não tem uma data específica. Sua única limitação é que ele nunca poderá existir no mesmo dia do "Dia do Eu Ganhei".
E o Dia do Eu Perdi já inicia uma noite anterior. Quando você tem algo planejado. Um planejamento real. Estar com você gosta. Rir a vontade. Sonhar com coisas boas. Ir trabalhar esperando o fim do dia chegar para tomar duas cervejas geladas e ir para casa tirar o cansaço do corpo. E ai está o erro. Não, o erro não está em tirar o cansaço do corpo. O erro está em acreditar que o dia posterior a esse planejamento, tudo sairá como se arquitetou.
E então eu acordei. Tomei café da manhã. Pão com leite condensado e nata. O café da manhã foi doce em um dia que eu gostaria de que fosse doce. E então eu saio para trabalhar. Ao chegar lá, minha primeira perda. Perdi em algum lugar a informação que dizia que na verdade eu deveria estar em outro lugar. Nada de tão ruim em perder isso, mas deveria ter voltado para cama.
A manhã, ensoladara, era uma boa manhã. Executava minhas tarefas enquanto eu perdia minha energia. Minhas mãos tremiam. Não estava mais acostumado a trabalhar no pesado. Havia perdido minha resistência. Mas o almoço estava chegando e eu já havia perdido alguns minutos dele. Fui voando para casa para lá chegar e saber que na verdade eu havia perdido meu lar.
A casa estava lá, minha família estava lá. Mas nem um nem outro estava satisfeito com a minha chegada. E foi assim que eu perdi minha casa. Colocado para fora sem entender o porque. Sem saber o que eu fiz de tão ruim para merecer não mais viver sobre o mesmo teto. Mas eu ainda tinha uma carta na manga, ou duas.
Abasteci o carro e comprei uns salgados e um refrigerante. Fui até o farol e lá fiquei degustando da minha perda. Só de pensar nos salgados meu estomago embrulha, mas a fome era tanta que eu devia comer aquilo. Assim, perdi a fome. Assim voltei para o trabalho.
Tudo exatamente como foi pela manhã. Ou quase tudo. Meu sorriso era forçado, meus olhos estavam mareados. Minhas mãos iam se sujando sem querer saber onde iria ser lavada. O fim do dia chegou. Todos os outros foram embora e eu sem ter para onde ir. Alias, eu tinha para onde ir, mas não poderia chegar sujo.
Fui até um posto de gasolina. Desses de beira de estrada. Disse que eu estava de viagem e se poderia pegar uma ducha rápida. Não havia perdido a sorte. Ainda. No meu carro sempre existe sabonete, toalha, escova de dentes e creme dental. Teria que ser um banho rápido. E assim foi.
E assim eu fui para a casa dela. Poderia dormir lá. Pelo menos essa noite. Cheguei de surpresa. Porque eu adoro surpreender. Já haviamos combinado durante a semana que dormiria lá. Então, a surpresa foi só a minha chegada em um horário não estabelecido. Fomos fazer um lanche. E eu, falando das minhas manias, na visão dela, deixei de ser homem. E eu, nas minhas brincadeiras, perdi mais uma vez. Lembra que eu não havia perdido a sorte ainda? Pois, a menos de trinta minutos acabei perdendo minha sorte também.
A moça saiu andando, sem dizer uma só palavra. Minhas brincadeiras machucam? Nem tanto. A vontade de não estar comigo deve ser maior? Nem tanto.
Então procurei uma lan house para escrever minha história. A história do meu "Dia do Eu Perdi". Perdi dois reais escrevendo. Perdi até o meu jeito de escrever. Essa história está um lixo. Esta pobre e sem qualquer nexo.
Afinal, no "Dia do Eu Perdi" eu perdi a paciência.
E vou dormir sob um teto de estrelas...

Obrigado a todos!

domingo, 23 de maio de 2010

O Reino de Hiperbórea

LIVRO UM - Os buracos de minhoca
Capítulo 1 - Nas ruas cinzentas


Demorei muito tempo para pensar e digerir sobre tudo o que aconteceu. Nunca é fácil contar histórias de guerras, mesmo quando muitos já decidiram contar. Falam sempre em vencedores e perdedores. Falam que a história sempre é contada por aqueles que venceram, mas eu discordo. Em qualquer guerra, quando o primeiro ser vivo morre a vitória deixa de existir.
Muitas pessoas morreram nesta guerra que se passou neste Reino. E vou contar a história sobre a ótica de algumas dessas pessoas que morreram em vão, por uma vitória mentirosa. Por uma paz falsa, já que a guerra continua acontecendo dentro de cada um dos que sobreviveram. Não existe vitória justa. Mas a justiça nem sempre está do lado certo.
No Reino de Hiperbórea a justiça ficou do lado de fora. Dentro do meu peito os jovens que morreram continuam vivendo e morrendo de forma injusta. Esta é a história dos jovens que foram recrutados para criar os seres que venceriam a guerra. Esta é a história de uma jovem que mudou o rumo da guerra. E ela veio para cá não por acaso, mas por escolha.
E na noite anterior as nuvens haviam parado de derramar suas lágrimas. Era uma cinza manhã de um dia qualquer. Alguns cachorros latiam para os malditos gatos que insistiam em desfilar a liberdade e passeavam pelos muros com os olhos famintos. As pessoas com suas capas amarelas se protegiam de uma chuva que fingia que em breve cairia novamente. Tudo ia ao ritmo de sempre.
Ísis estava em casa protegida daquilo tudo. Comia banana amassada e tomava um copo de leite. Ainda tinha algum tempo até ter que sair correndo para escola. Tinha tempo para sempre estar alguns minutos atrasada. Aprendeu esse comportamento com o pai, um historiador amante do Egito. Estava sempre atrasado para um achado arqueológico que mudaria o modo como as pessoas entenderiam a história egípcia, mas ao invés de banana amassada e copos de leite, o que o atrasava era os copos de uísque.
E foi assim que ele veio a falecer. Os rins pararam de funcionar, o pulmão não quis mais aceitar a fumaça do cachimbo e o coração concordou com a greve e nunca mais voltou a bater. E Ísis ficou aos cuidados do irmão mais velho Osíris e da mãe Claudia.
Claudia era empresária, dona de uma loja de caixas de presentes. Osíris era sócio e tinha o dever de captar os clientes. Ísis tinha o dever de ficar em casa todo dia e ir para a escola. Voltar pra casa e manter essa rotina. Nos fins de semana dormia na casa de algumas amigas.
E naquele dia mais uma vez ela saiu atrasada para a escola. Pegou a mochila e a chave do cadeado da bicicleta. Pegou a estrada. Até chegar na escola davam uns dez minutos de pedalada em ritmo rápido.
Quando lá chegou, colocou a bicicleta no bicicletário em frente a escola. Deixou seu veículo ali cadeado. E mais uma vez ela veio falar comigo.
- Trouxe uma maçã para o seu café da manhã, senhor Bote...
- Muito agradecido, minha pequena!
- Não sou pequena! Tenho treze anos. Preciso repetir todos os dias?
Nós dois sorrimos. Peguei a maçã e a vi se afastar. Só voltaria a vê-la depois de quatro horas. Quando ela iria me trazer o que sobrou do refrigerante.
O tempo dela fazer a escolha estava cada vez mais próximo. O último buraco de minhoca do ano estava para se abrir. E Hiperbórea esperava que eu fizesse o meu trabalho. Levar uma adolescente que não tinha medo de um velho cego de roupas pretas que tinha sempre uma história nova para contar.
A chuva veio fina. E meus cabelos umedecidos esperavam o dia certo para fazer a revelação. Não tinha dúvida que o dia estava realmente próximo e eu poderia voltar a minha terra que há muito sofria com uma guerra sem qualquer fundamento. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A trilogia de um Carnaval - Ato 3 - Columbina

     Estava radiante. Era apaixonada pelo carnaval e pelas marchinhas de antigamente. Assoviava sempre as mesmas melodias enquanto andava com seu rebolado. A fantasia estava na bolsa. No corpo a roupa de trabalho e a vontade de ver os blocos passarem na avenida e os corpos bailarem no salão.
     Deu mais uma conferida na fantasia. Uma saia branca abaloada. Um corpete preto, com fitas brancas trançadas nas costas. Luvas pretas. Meia arrastão preta e nos pés um tênis branco all star. Para completar uma longa piteira com losangos pretos, brancos e vermelhos. Estavam tudo ali, dentro da bolsa preta de couro.
     Foi caminhando até a pizzaria onde trabalhava. Era bem próxima de onde morava, o que facilitava e muito as coisas. Pegou o celular do bolso e mandou uma mensagem para Pierrot, ele seria uma boa companhia para o seu carnaval. Os olhos castanhos foram acompanhando os dedos enviando a mensagem. Como sempre, ele respondeu em seguida. Meia noite ele passaria para buscá-la.
     Era bom contar com a presença dele. Quando Pierrot estava por perto ela sentia um profundo clima de amor sincero e infantil. Era sublime pensar nele. Comeria uma pizza de sensação preta com morangos vermelhos para celebrar o pensamento. Esperava que o pizzaiolo atendesse o seu pedido.
     E a noite foi passando, oscilando entre o muito rápido e o muito lento. Mas passava ao seu ritmo. Algumas vezes olhava pela janela buscando encontrar a lua. Seria lua nova ou as nuvens escondiam a sua luz? Deu um sorriso com esse pensamento. Quantos mais pensavam nessas possibilidades da lua?
E então o telefone tocou mais uma vez. Mais um cliente. Pizza gigante. Acompanha refrigerante. Mais um telefonema. Outro mais. Então ele ligou.
      - Pizzaria da Cidade... boa noite!
     - Boa noite! Eu desejo uma pizza inteira de amor, com bordas recheadas de paixão. Para acompanhar quero Colombina. - Ela de uma risada abafada procurando não chamar a atenção dos clientes e da sua chefe.
      - Arle... quantas vezes já falei para não ligar para cá? E hoje vou sair com Pi...
      - Mas você sabe que o valor de Pi não é exato. Exato é o que sinto por você. Que tal um baile à dois em um motel da cidade, realizando nossas fantasias?
      - Eu tenho o teu número. Quando eu sair daqui eu te ligo.
      - Certo. Fico esperando!
      Arlequim é o tipo de homem que encantava ainda mais Colombina. Ele era divertido, tenha um olhar que lançava um aroma de sedução. As mãos dele sabiam acariciar o corpo. Quando ela estava com ele sentia um amor provocante, erótico e picante. Sentiu vontade de estar com ele em um motel.
      Perdida em pensamentos, olhou no relógio. Meia noite e cinco. Olhou o telefone celular. Uma chamada não atendida. Havia esquecido de Pierrot e se bem conhecia ele, devia estar fazendo um dramalhão. Provavelmente estava se sentindo abandonado. Resolveu ligar.
      - Desculpa! Vou me atrasar. - Fez uma voz suave e doce. Era o modo de pedir desculpas.
      - Quanto tempo?
      - Vinte minutos. Te dou um toque quando estiver pronta. Beijos... - Desligou sem dar tempo para ele reclamar. Pediu para a menina assumir o lugar dela, depois ela acertava com a chefe. - Manollo, faz uma pizza sedução pra mim? Estou atrasada.
       Ele deu um sinal de "ok".
      Colombina pegou a bolsa e correu para o banheiro. Estava toda atrapalhada. Maldito corpete que não fechava. Maldito cabelo que não ficava preso. Esqueceu o penteado e fez uma franja e um rabo de cavalo. Onde estava o celular? Onde estava o relógio? Os encontrou. Tinha apenas mais dez minutos. Colocou a meia arrastão e o tênis. Estava pronta. Morrendo da fome. Saiu do banheiro. Estava linda.
      - Manollo, minha pizza?
      - Esqueci... mas faço já!
      Ela ficou sentada apreensiva. As pernas tremiam ansiosas. Jogou sem querer o celular dentro da bolsa. Ficou acompanhando as horas se passarem rápidas no relógio.
      Vinte e cinco minutos. As pernas tremiam ainda mais ansiosas. E a pizza ficou pronta.
      Trinta minutos. Comia rápido, enquanto bebia ainda mais rápido um refrigerante.
      Trinta e cinco minutos. Correu para o banheiro. Escovou os dentes e passou um batom vermelhos nos lábios úmidos.
      Quarenta minutos. Estava caminhando em direção a calçada. Onde estava o celular para avisar, Pierrot?
      Quarenta e três minutos. Ele havia ligado. Deve ter chamado e ela sequer ouviu. Tentou ligar para ele, mas o telefone estava desligado. Ficou sem saber o que fazer. Pensou em Arlequim, mas havia ficado tensa e perdido a vontade de estar com ele. Olhou mais uma vez no relógio.
      - Quer saber? - perguntou ela para si - O mundo está repleto de Arlequim e Pierrot. Eles que encontrem sua própria Colombina. Eu cansei.
      E no outro dia, ela chegou cambaleando em casa, com a piteira na mão. O cigarro apagado. Entrou pelas portas do fundo, deixando o vento levar um pedaço de tecido em forma de coração que estava pregado com um canivete na porta da frente.
       Afinal de contas, quem se tornou Arlequim? Quem de derrubou as lágrimas?
       Colombina se tornou seu eterno carnaval, derrubando sonhos e corações dos homens que a aquela noite ela não beijou.
        Esse sempre foi o amor de Colombina.
        Carnaval!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A trilogia de um Carnaval: Ato 2 - Arlequim

     Do pulmão saiu uma fumaça cinza e logo em seguida uma tosse seca. Arlequim repousou o cigarro com aroma de canela no cinzeiro, que na verdade era uma lata de cerveja vazia. A mão esquerda segurava mais um retalho vermelho, que em breve a mão direita, com sua agulha e linha dourada, terminaria de fazer uma calça de losangos. Afinal de contas era carnaval.
     Lembrou-se dos carnavais anteriores. Dos dias em que participou de blocos de sujo com amigos que agora estão morando do outro lado do oceano. Lembrou-se do último ano. Dos olhos castanhos e da pele morena. Da cintura fina, das ancas largas. Dos seios firmes e da boca vermelha. Lembrou-se de Colombina, a garota que trabalhava de atendente em uma pizzaria da cidade.
     E sua calça estava pronta. Branca, vermelha e preta com as costuras aparentes em dourado. Por cima uma camiseta branca de mangas longas. Colocou uma máscara que deixava aparente apenas a boca. Seus lábios carnudos com dentes brancos e perfeitamente alinhados. O sorriso sarcástico estava ali. Pegou o telefone e discou.
     - Pizzaria da Cidade... boa noite!
     - Boa noite! Eu desejo uma pizza inteira de amor, com bordas recheadas de paixão. Para acompanhar quero Colombina. - Uma risada abafada surgiu no outro lado da linha.
     - Arle... quantas vezes já falei para não ligar para cá? E hoje vou sair com Pi...
     - Mas você sabe que o valor de Pi não é exato. Exato é o que sinto por você. Que tal um baile à dois em um motel da cidade, realizando nossas fantasias?
     - Eu tenho o teu número. Quando eu sair daqui eu te ligo.
     - Certo. Fico esperando!
     Mas Arlequim não era de esperar. Desceu as escadarias do pequeno prédio de aluguéis e foi andando pelas ruas da cidade. Ia fumando e cantando as pequenas marchinhas de carnaval. Foi costurando as ruas. Mexia com alguns foliões. As nuvens no céu não deixava a lua aparecer. Ou seria lua nova?
     Arlequim caminhava nas horas e se sem perceber se perdeu nelas. Quando chegou a pizzaria, as portas estavam fechadas. Mas como bom vivente que era, sabia que a uma quadra dali morava Colombina. E ele estava preparado.
     Quando chegou na porta da casa dela, tirou um canivete da calça e junto um coração de tecido. E na porta da casa de Colombina o jovem de calças de losango deixou o seu coração. Quando amanhecesse Colombina iria se tornar Arlequim.
      Mas quando é que o dia amanhece?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Trilogia de um carnaval: Ato 1 - Pierrot

     Estava sorridente. Colocou seu tênis preto all star. Meias brancas na altura da canela. Bermuda preta. Cinto branco. Camiseta preta. Ajeitou os alargadores. Colocou o MP3 player no bolso e ajustou os fones no ouvido. Na playlist o melhor som que podia existir.
     Olhou no relógio. Faltavam cinco para meia-noite. Lá fora o carnaval estava começando. Não era um folião, muito menos gostava dessa festa. Não aceitava bem a idéia de corpos se tocando em busca do simples prazer carnal. Mas ele não tinha tempo para pensar nisso. Olhou mais uma vez no relógio, haviam combinado de se verem meia-noite. E agora faltavam quatro minutos.
     Durante toda a semana ele havia pensando nela. Tinha a resposta para aquilo que ela iria perguntar. Sim. Ele estava pronto para amar. Então tirou o telefone no bolso e discou o número dela. No visor surgiu o nome "Colombina". Estava chamando. E ela iria atender. Iria dizer que estava pronta e que ele poderia buscá-la onde quer que ela indicasse. E continuou chamando. Chamando. Apertando o coração de Pierrot. Chamando.
     E caiu.
     Um subito arrependimento surgiu na cabeça dele. Uma lágrima caiu triste levando consigo o sorriso dos lábios dele. Acendeu um cigarro e ficou sentando no meio fio. Queria ter alguma cerveja para acalmar seus pensamentos de abandonado.
     Olhou a lua, mas não a encontrou. Seria lua nova ou as nuvens eram muito densas? Olhou no telefone celular as horas. Meia noite e cinco. Suspirou e deitou na calçada. Fechou os olhos e as lágrimas cairam mais rápido. E o telefone tocou. Na tela o nome novamente "Columbina".
     - Desculpa! Vou me atrasar. - A voz suave dela era doce.
     - Quanto tempo?
     - Vinte minutos. Te dou um toque quando estiver pronta. Beijos...
     Antes dele responder beijos o telefone desligou.
     Deu play para o tempo passar mais rápido. E assim ele foi passando. Ouviu umas cinco músicas. Olhou o relógio do celular. Vinte minutos haviam se passado e nada dela. Mas dessa vez ele estava prevenido, não havia juntado o sorriso do chão.
     Vinte e cinco minutos. As pernas tremiam ansiosas.
     Trinta minutos. O telefone recebe uma mensagem. Notícias do mundo, mas não dela.
     Trinta e cinco minutos. Pierrot estava em pé.
     Quarenta minutos. Estava caminhando em direção a casa dela.
     Quarenta e um minutos. Ele ligou. Chamou. Chamou. Chamou. O coração dele se despadaçou. Chamou e caiu. Ele deu meia volta. Desligou o telefone.
     Voltou para o seu quarto. Tirou as roupas sem cor. Jogou o telefone em um canto e se jogou na cama. Antes de dormir pálido e emudecido pensou:
    "Colombina obrigado por me fazer esperar e me trocar por outro alguém que nem sei quem é..."
     E até hoje nosso Pierrot apenas chora... derrubando uma única lágrima por dia.
     Uma lágrima chamada Colombina.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quem se importa com esse não? O calor...

     O suor escorre pelo meu corpo marcado pelo tempo. Tento pensar em algo que me refresca, mas no momento minha mente consegue se focar apenas na leve dor de cabeça. A tempora direita fica pressionando meu cérebro para dentro. Ou é o calor ou eu não sei...
     Talvez saiba. Por enquanto fico com a sensação de calor misturado com meu inferno sentimental. Não existem cervejas geladas. Não existem as amizades por perto. E quem eu quero está muito longe agora. Não vou revelar se é um "longe geográfico", se é um "longe sentimental". Não vou falar quem eu quero. E até agora já fiz uma quadra de "não". Em breve vem uma quina.
     Quem se importa com jogos de dominó? Quem se importa se eu estou bem ou mal? Quem se importa se o ventilador não está virado para mim? Quem aqui acredita que eu sou o responsável por tudo isso? Eu até fico sorrindo para a página que aos poucos vai deixando de ser branca para ter detalhes em preto. Mas quem se importa com jogo de xadrez?
      E esse fim de semana não foi nada bom.
      Pessoas querendo apenas sexo me irritam. Pessoas que somem me irritam. Pessoas que riem de mim por que meu time perdeu me irritam. Ficar molhado de suor me irrita. Pessoas que estão longe me irritam. Esse fim de semana está irritante.
      E o melhor de tudo, amanhã é segunda-feira e vou poder falar que meu fim de semana foi essa merda por conta do calor.
      E viva o calor!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Castelo de Cartas

     Coloquei a última peça que faltava no meu castelo de baralhos. Lá no topo o rei e dama de mãos dadas para não serem levadas pelo vento. Fiquei ali debruçado olhando a magnitude da minha criação. Cada carta dando sustentação para a próxima e está para a seguinte, e assim por diante. E lá no topo o rei e dama, de mãos dadas.
     Deixei minha arquitetura ali. Para que as pessoas pudessem ver o quão engenhoso pode ser o cérebro humano. Estava feliz, mas foi por um simples momento. Ao abrir a janela e pedir para todos virem observar uma das sete maravilhas do meu mundo deixei que o vento viesse e inflasse o meu quarto de ar. O mesmo vento que ao entrar acariciou os meus cabelos, foi o que destruiu sem qualquer piedade o meu castelo.
     O rei e a dama estavam longes um do outro, talvez embaixo dos escombros. Um aperto no peito. As lágrimas surgiram ainda mais salgadas. Porque as pessoas existem? Porque elas não se contetam em observar os próprios castelos? Porque ninguém vinha se desculpar por ter feito eu abrir a janela do meu quarto e solicitar que eu as chamasse? Meu rei e minha dama estavam jogadas pelo quarto, misturadas com a grande plebe de cartas.
     Fechei a janela e mandei o vento embora. Que ele nunca mais entrasse para me acariciar se logo em seguida fosse destruir meu castelo de cartas. E então eu reuni todas as cartas e comecei a alinhá-las. Uma a uma. Com todo amor que tinha por elas. Repousei o rei e a dama no meu colo deixando que olhassem o seu castelo ser reeguido por um grande engenheiro.
     Algum tempo depois estava pronto. E lá estavam novamente os dois de mãos dadas. Não iria chamar ninguém para ver. Levantei devagar e abri a porta e descobri que o vento dá a volta. E lá se foi meu castelo para o chão. Controlei o choro, eu tinha sete anos. Estava crescendo. E apenas entendi.
     Entendi que na vida muitos ventos irão colocar meu castelo no chão. Que muitos ventos irão afastar o rei e a dama. Mas foi só com o tempo que eu descobri que a culpa não é do vento, a culpa não é de qualquer pessoa. Castelos de cartas são feitos para serem derrubados e reerguidos.
     Só com o tempo eu entendi que a minha vida é o meu próprio castelo...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Grão de mostarda

     E de repente parei o meu carro. Mas a poeira da estrada de barro rapidamente me alcançou e seguiu o seu caminho. Mas eu tinha que parar e ver aquela imensa plantação que beirava a estrada estreita que levava a algum lugar que eu não sabia bem onde.
     Decidi pegar estradas assim depois que descobri que tenho um tumor na cabeça. Tenho três meses de vida. Na verdade agora tenho apenas um mês. Queria jogar tudo para o alto e ir viver a vida que nunca vivi, mas talvez o tumor tenha me feito pensar. O meu tumor... vou falar com sinceridade. O meu cancêr cerebral foi criado pelo meu racional que nunca me deixou sentir.
      Meu deus!
     Olha eu aqui na beirada de uma estrada estreita, com meu tênis coberto de poeira tirando a minha culpa e jogando para algo que... o que me basta é suspirar. Meu cancêr, criado por mim. Dentro de mim. Dentro da minha cabeça. Corroendo o que eu tinha de melhor, meu intelecto e o meu modo de explicar a vida. Se eu fosse um idiota sentimental, talvez... não! O coração não tem cancêr.
     Meu deus! Só me restam quatro semanas e eu aqui com minha lamentações. Nessa estrada estreita com essa imensa plantação de mostarda me fazendo convites para ver o mundo com outros olhos e eu aqui olhando mais uma vez com os olhos da razão.
     Nunca havia visto uma plantação tão linda assim. Um imenso mar amarelo que mexe com o toque leve do vento. Que não se cansa de mostrar sua beleza. Uma plantação de mostarda. Fico com vontade de rir. Pensando que minha imagem da mostarda até então era um tubo transparente repleto de uma pasta amarelada sobre a mesa de uma lanchonete.
     Eu e minha vida moderna.
     Agora, lá ao longe um homem de camisa xadrez me chama. E percebo que o tempo corre rápido. Quando comecei a escrever estava no passado e de repente me vejo no tempo presente, sendo chamado por um senhor desconhecido. Cabelos cinzas e sorriso de quem sabe viver ou sabe fingir muito bem.
     - Tarde, moço! Posso ajudar? - Disse ele com sua voz carregada de sotaque do interior.
     - Boa tarde! Me desculpa, mas só estava vendo como é linda sua plantação de mostarda. Gostaria de carregar ela para sempre. Embora meu "sempre" é tão breve!
     - Quanta amargura. Devia sorrir mais do que ficar apenas se sufocando. Pegue aqui essas sementinhas de mostarda e plante na sua casa. Se cuidar bem vão ser plantas tão belas quanto essas. Mas agora o senhor poderia ir andando que assusta a vizinhança. Sabe o que eles falam dos homens da cidade, não sabe?
     - Tudo bem! Agradeço as sementes.
     Dei meia volta. Entrei no carro e comecei a acelerar lentamente. E eu pensando que aquele senhor iria me dar uma lição de moral. Uma lição de vida. Falar da passagem bíblica que diz que quem tem a fé do tamanho de um grão de mostarda pode remover uma montanha. Então eu iria pensar.
     Pensaria algumas semanas e descobriria que não tinha fé na vida, na cura e nas possibilidades de crescer. Minha fé não chegava nem a um terço do grão de mostarda. Descobriria que minha montanha é o meu cancêr cerebral. E então como um toque de mágica passaria a ter fé. E um dia antes de morrer iria fazer meu último exame e veria que o tumor não existia mais. Que eu estava curado.
     Mas eu sou apenas um ser humano que espera que os outros me falem de lições de vida. Que espera encontrar um senhor de meia idade que me diga palavras de sabedoria. Mas o meu senhor apenas me deu grãos de mostarda que eu joguei no chão do carro e nunca floreceriam. E no final de quatro semanas eu vou morrer na paz de quem não teve fé suficiente e não enxergou os sinais que a vida dá.
      Eu não movi a montanha. Deixei que ela desabasse sobre mim...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Preguiça de estar triste

    Meus olhos se enchem de lágrimas.
    Não é tristeza. Toda vez que vem um bocejo meu olhos se inundam dessas partículas de água salgada. Chega a ser irônico. Não estou triste, estou com sono.
    Meu corpo está cansado pelos dias que se passaram. A correria do dia a dia me cansa. Não sigo um cotidiano repleto de mesmices, talvez por isso esteja cansado. Não sei exatamente a causa disso tudo. Minha rotina não é rotineira.
    Penso que ontem, um sábado que...
    Quer saber?
    Estou cansado de estar triste!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Esboço para uma história

     Sentado na mais alta colina, com olhos de águias, é fácil ver a destruição e devastação de um mundo em que tudo poderia ser diferente se todos resolvessem apenas sentar em uma mesa redonda e conversar como seres civilizados e sem pretensões de poder e de conquistas territoriais.
     Olhar de cima da colina tudo aquilo é muito fácil. Ver a fumaça subindo trazendo consigo o cheiro de corpos queimados, do sangue derramado e das lágrimas de quem perdeu e de quem venceu, pois é difícil acreditar que alguém pode sorrir numa guerra. A guerra sempre traz a idéia de derrota, mesmo para aqueles que se dizem vitoriosos.
     Então acendo um cigarro com o pouco de erva que ainda sobrou. Algo não muito fácil de encontrar entre as batalhas. Geralmente os veículos pesados passam por cima delas sem prazer algum, sem ódio algum, pois apenas passam. E aqueles que saboreiam o sabor de uma erva fina e a fumaça que dela sai, estes sim sentem o prazer de ver que nem todas foram destruídas, estes sim sentem o ódio em ver que a maioria foi destruída.
     A erva roxa, colocada dentro de cascas das amêndoas, e agora enrolada no que sobrou de um oficio de alguma das partes em guerra, me dá a sensação de que aquela guerra que eu presenciei foi a ultima. A última dessa minha vida inútil. Estou tão cansado de idas e vindas entre os lados em conflito que acredito não ter mais pernas, ou asas, firmes para desenvolver um bom papel de espião.
     Sim, eu fui espião desde o primeiro dia de guerra. O mais excelente dos espiões, já que trabalhava para os dois lados. Sou um mercenário das informações e não tenho vergonha disso. Tenho vergonha de não ter solicitado mais dessas pedras e metais preciosos, que agora só valem para eu comprar um pouco de dignidade, mas nada de confiança. Você confiaria em um espião que admite este fato? Eu não confiaria, e tenho certeza absoluta disso.
     Talvez você queira saber da minha vida. Talvez queira saber da guerra. Talvez não queira saber de nada e não vai me dar ouvidos. Talvez você queira saber de tudo e vai me dar algumas moedas ao final dessa história que eu vou te contar. Não que eu queira, mas seria justo, já que você está consumindo meu valioso tempo, está respirando a fumaça que sai dos meus pulmões e que tem muito dessa erva que nos leva a uma paz de espírito doentia.
     Quem sabe eu não sou um doente? Seria bom olhar por essa perspectiva. A perspectiva de um velho espião alado, de botas furadas, calças de pano cinza rasgadas, com as penas do peito já esbranquiçadas. O que eu sei é que essas histórias de guerras entre mundos, entre reinos, entre pessoas já estão cansadas de serem ditas. E que qualquer um pode escrever sobre elas. Mas ninguém pode contar as mentiras sujas, que não são nada românticas, tão bem quanto eu.
     Eu já te disse que participei dos dois lados? Se é que posso dizer que eram apenas dois lados em conflito. Pois esse mundo todo que se perde por trás do horizonte entrou em guerra, para ver quem iria dominá-lo da melhor, ou pior, maneira. Todos eles tinham arqueiros, todos eles tinham a melhor linha de frente que poderiam formar, e todos eles tinham a mim, como seu mais justo e confiável espião. Não me odeio por isso, pois fui realmente justo e fui realmente confiável nas informações que eu passei.
     Mas bem, acho que estou me enrolando para começar essa história. Eu gosto muito de falar sobre mim e sobre minhas habilidades, mas acho que vai ser melhor eu falar como se eu fosse outra pessoa contando a história. O que você me diz? Algo assim, mais impessoal, mais distanciado. Se bem que qualquer história contada nunca será impessoal, e é bem capaz de você perceber que nessa história eu deveria ser o grande vencedor da batalha. Sim, existiu um vencedor. E isso irá ficar para o final. Ninguém gosta de saber o resultado de um jogo antes dele terminar, certo?
     Então posso dizer que tudo começou quando deveria ter começado. Em um dia da estação onde as folhas caem das árvores e fecundam o chão, dando origem a novas árvores. Eu adoro esta estação. As cores avermelhadas são uma delicia de serem vistas. Lembro uma vez de uma garota que conheci em baixo de uma árvore bastante frondosa. Esta árvore resolveu entrar na estação antes das demais e veja só, fecundou essa garota e ela criou raízes profundas.
     Isso é verdade. Às vezes eu passo por ela e vou podar alguns galhos para que ela não adoeça. Eu poderia ter casado com aquela garota. A sim, eu poderia. Quer um cigarro? Não fuma? Menos mal. Assim é capaz dele durar por toda a história.
     Certo, a história. Eu fujo muito do foco, tenho essa desatenção, sabe? Tem uns amigos meus que dizem “Aladino, você deixa seu pensamento bater asas mais rápido que você mesmo pode bater”.
     Não estranhe a minha risada. Parece um soluço, não concorda? Tenho raízes para você mascar. Pegue um naco desta. Você vai sentir seus ouvidos se abrirem. Já está sentindo o resultado? Eu sabia. Estou sempre certo em relação a ervas, raízes e folhas que fecundam. Aprendi com uma feiticeira. Pobre, morreu por ter escolhido o lado errado da guerra. Ou por ter sido criada do lado errado, o que seria mais correto eu te dizer. Mas quando for hora de contar sobre isso, ela vai voltar a viver, pelo menos nas minhas palavras.
     Vamos à história. Tudo aconteceu quando tinha que acontecer. Na estação das folhas que fecundam o solo. Eram dois reinos que sempre estiveram em guerra, mas que um dia resolveram acabar com ela e decidir quem seria o grande vencedor. Mas, devido aos anos de guerra, ambos os lados estavam sem soldados e encontraram nas profecias dos velhos reis uma forma de decidir isso. Foi assim que descobriram os buracos de minhoca e nossa história começa a ser contada.

***

Nota: Essa história nunca foi terminada, mas achei interessante postar aqui ao invés de jogar na lixeira.

domingo, 17 de janeiro de 2010

... e avante!

     E ele não era filho de bruxos, muito menos filho de deuses. Há quem diga que seria estranho acreditar que ele era um vampiro ou um lobisomem juvenil. Não, ele também não era seguido por cavaleiros. E nunca participou de uma sociedade que precisaria destruir um anel.
     Ele era apenas um ser humano normal. Ou deveria ser um ser humano normal. O fato é que tinha alguns poderes, mas por ser isolado dos outros humanos ninguém sabia. Ninguém ao menos desconfiava a força que passava pelas veias daquele jovem garoto de dezesseis anos.
     E eram poderes fantásticos se bem lembro.
     Tudo começou quando nasceu. Parto normal. Seu primeiro desafio. Nascer. E nasceu bem, com saúde. Era o sétimo filho de um casal que morava no suburbio pobre de uma metrópole desorganizada. E teve que crescer na pobreza. Com um pai que bebia e batia na mãe. Com uma mãe que apanhava e dava grande parte do seu salário à igreja para conseguir uma vaga no coração do Criador.
     Foi nesse contexto que seus poderes apareceram. Criados um a um pela necessidade de crescer.

O primeiro poder: Sobreviver à fome.

    Pouco se tinha para comer. O dinheiro que o pai não bebia e a mãe não dava servia para pagar algumas contas e o restante servia para o alimento, que por conta destas questões era pouco. Muitas vezes o que sobrava para ele era o caldo de feijão. Quando cresceu um pouco, descobriu o lixão e a mesa ficou farta.

O segundo poder: Crescer

     Não cresceu muito. Mas conseguiu chegar a uma estatura considerável. Tinha os braços fortes das latas de água que buscava numa bica que ficava longe da sua humilde casa. Sem contar das brigas que tinha que vencer para continuar a crescer. Todos os dias apanhava muito, e quando desmaiava rápido não apanhava tanto. Era o seu principal golpe.

O terceiro poder: Imunidade ao frio.

    Quando completou doze anos resolveu sair de casa. O pai havia morrido de cirrose e a mãe estava tendo um caso com o pastor da igreja, que agora levava todo o dinheiro dela. O homem gordo de terno e gravata batia na mãe com a bíblia. Sentia raiva da situação por não poder vencer apenas desmaiando, então resolveu ir sem dizer adeus. E morou embaixo do viaduto e continuava indo ao lixão. Não iria nunca roubar para se alimentar. A unica roupa que tinha e o unico cobertor que tinha o fizeram ter esse terceiro poder. Nas noites de frio se aquecia com as folhas de jornal e foi neles que aprendeu a ler. Não sozinho, mas com a ajuda de um velho com quem dividia o viaduto.

O quarto poder: Sonhar.

     E ele era um sonhador. Sonhava em sair daquela situação. Achava impossível. Queria ter um trabalho digno, ter mulher, filhos e um carro. Qualquer um desses que passavam no viaduto. Queria uma mulher trabalhadora que acreditasse na vida. Ter dois filhos que ensinaria o poder de viver. O poder de crescer. O poder de não ter frio. E o poder mais importante, o poder de sonhar.

***

     E foi como em um sonho que tudo mudou. Um dia ao ser atropelado por um cidadão teve a certeza que tudo mudaria. Sentiu o sangue subir a garganta. Sorriu. Estava morrendo. Então aquilo ali era morrer. Estaria livre para nascer em outra condição.
     Mas não morreu. Com os poderes que tinha não seria fácil assim morrer. O mesmo homem que o atropelou era professor universitário e tinha alguns poderes. E o principal de todos era o de dar oportunidades. E após a alta do garoto, ofereceu abrigo, alimentação, bolsa de estudos. Em resumo, apenas uma oportunidade.
     E hoje há quem diga para este velho morador de viadutos que o garoto estuda em uma escola no alto de um edifício. E quem o escuta subindo pelo elevador sabe que ele sussurra:
     - Para o alto e avante!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Não me diga adeus!

     Sai do banho e a vi deitada na cama. Olhei as curvas perfeitas do seu corpo contornadas pelo lençol. A garrafa de vinho branco aberta e a taça tombada no chão. Dormia?
     Cheguei de modo lento. Peguei a taça e enchi com o resto do vinho que sobrara. Senti o cheiro e dei um pequeno gole. Seco. Fiquei olhando o corpo dela enquanto bebia. Era belo. Bronzeado pelo sol de domingo. Então ela se virou.
     Olhou com aqueles olhos de jabuticaba. Doces e infantis. Deu um leve sorriso com seus lábios suavemente avermelhados pelo batom. Pediu para que eu deitasse ao lado dela. E foi o que eu fiz. E senti o corpo dela me envolver pelo calor que ele transmitia.
      Senti saudades de um tempo que não volta mais. De quando andávamos juntos. O problema é que andávamos em direções opostas. Então, olhei nos olhos dela mais uma vez e vi que não podia trazê-la para minha vida confusa e inconstante. Não podia dar ao luxo de fazer com que ela sofresse novamente.
       Ela estava bem agora. Tinha objetivos bem definidos. Eu era apenas um perdido no mundo, bebendo e fumando. Participando de encontros intelectuais. Projetos de pessoas solitárias que desejam muito estar ao lado de um grande amor.
       Sei que poderia ser diferente se eu já estivesse diferente. Mas ainda não estava. Espero que quando chegar o dia em que serei mais constante ela já não tenha ido embora com outro alguém. Eu a amo e ela sabe disso. E ela também sabe que as vezes uma crônica é só uma crônica. E ela também sabe que as vezes sinto saudades de escrever crônicas romanticas.
       O que talvez ela não sabe é que tenho medo de me perder e viver uma vida que até agora não me permitir a viver. Uma vida de amor pleno, sem cobranças e sem pessoas dizendo adeus.
       Por favor, não me diga adeus!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O ônibus que chega

     Escutou o barulho dos pássaros cantando. Sorriu.
     Deixou os ouvidos se acostumarem e se arrependeu. O intenso fluxo de carros invadiu os ouvidos e o mundo ficou de cabeça para baixo. Sentiu o estômago embrulhar, como se houvesse levado repentinamente um soco de algum lutador de boxe peso pesado. O sorriso foi embora.
     Levantou-se do banco e sentou no mesmo. Olhou no relógio e não se surpreendeu. Faltavam dois minutos para o ônibus chegar. Esticou o tronco para frente. Lá vinha ele. Ajeitou o cabelo, arrumou a roupa que estava um tanto amassada. Tirou uma goma de mascar do bolso, mas resolveu devolvê-la.
     O ônibus chegou.
     O ônibus se foi.
     Ele ficou ali estático. Sem saber bem o que fazer. Deveria ter entrado, mas suas pernas e seu corpo não obedeceram. Jogou a pasta de documentos importantes em um lado. Tirou a gravata. Tirou o paletó marrom. Tirou o sapato e as meias.
     O chão de concreto era gelado. O cheiro da cidade era podre. Mesmo assim abriu os pulmões para ele. Correu como nunca, de braços abertos para o nada. Ou para a liberdade.
     Lembrou-se de quando era criança. De quando era um adolescente. De quando corria sem qualquer medo atrás da vida, e agora ele estava correndo dela. Do modo como ela havia o sufocado. Estava sorrindo enquanto todos aqueles, os que iam acordando aos poucos e invadindo as ruas da cidade, olhavam incrédulos.
     Ficou nesse estado até o anoitecer, quando resolveu voltar ao ponto de ônibus. Ao seu ponto de ônibus. Onde dormiu.
     Escutou o barulho dos pneus dos carros cantando em contato com o asfalto. Sorriu.
     Tinha que ter uma desculpa.
     O ônibus chegou.
     O ônibus se foi.
     E a vida voltou a ser do mesmo jeito.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Minha vida se repete

     E então ele acordou tarde.
     Olhou para o teto branco. O ventilador ligado fazia circular o ar quente dentro do quarto. O lençol estava amarrotado. Não quis se levantar. Não quis colocar a roupa e sair para fazer algo de sensato.
     Pegou o celular. Olhou as mensagens e as ligações não atendidas. Não havia nada dela. Dificilmente havia algo dela naquele pequeno espaço que ele chamava de vida. Jogou o celular no chão e pensou estar flutuando em sua própria depressão.
     Depressão? Não, apenas uma profunda tristeza. Não queria ter ou estar ou carregar consigo os transtornos psicológicos da moda. Não era bipolar, não era depressivo, não obssessivo-compulsivo. Era apenas o garoto que havia se apaixonado por uma garota que nem sequer sabia que ele existia.
      Era tão clichê aquilo que causava ânsias. E então vomitou.
      Ficar bebendo até as cinco da manhã para esquecer alguém que sequer lembrava dele não havia sido uma boa alternativa. Estava tentando convencer a quem? Estava tentando fugir de quem?
      A garota. Numa pintura de Van Gogh, na musicalidade de Bob Dylan.
      E ele ali deitado, flertando com seu corpo embriagado de vinho tinto. Tateou o criado-mudo. O maço de cigarro estava vazio. Deveria levantar e comprar outro? Achou uma péssima idéia, mas se levantou. Juntou o celular do chão.
      Ainda de cueca, foi a cozinha e preparou um café preto. Forte. Com açúcar. Glicose sempre ajudava. Foi até a porta da frente e pegou o jornal do dia. Sentou-se na pequena mesa. Abriu o jornal e tomou um gole de café.
      'Que droga', pensou, 'sempre as mesmas notícias'.
      Deixou tudo ali.
      Olhou o celular mais uma vez. Ficou olhando e pensando.
      Talvez se ele se esforçasse para existir no mundo dela, ela simplesmente saberia que ele existia. Mas agora?
       Agora ficaria apenas com a saudade da imagem dela. Da sonoridade.
       Ficaria mais um dia de braços dados com sua falta de coragem...
       'Quem sabe amanhã?'
       E a xícara se deixou cair. O líquido preto refletiu a imagem dele se misturando com as letras do jornal.
       'Que droga, sempre a mesma imagem, na mesma vida, com as mesmas notícias'.
       Nessa vida que não cansa em se repetir.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Meu primeiro e-book

     Tim, como gosta de ser chamado Timóteo, é um homem solitário que tem como seu melhor amigo um velho maverick 1973, motor V8, na cor preta.
     Em uma noite, entre a fumaça do cigarro e o asfalto da rodovia, começa a repassar sua vida amorosa, em curtos episódios de 'esquizofrênia sentimental'. No breve espaço do banco do passageiro suas ex-mulheres vêm ao encontro das memórias que Tim precisa reviver para seguir em frente nessa sua longa rodovia que apelidou de solidão.

Um livro escrito por Dave C. Buks (heterônimo de David Tiago Cardoso).

Para download acesse o link abaixo:
[http://migre.me/fPa6]

Abraços!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A classe que faz média usa crack

     Andando na rua, por entre a sujeira do fim de ano e os jornais deste novo ano que se inicia, eu vejo mais do que apenas lixo material. Vejo um lixo sentimental. Pessoas escondidas por trás de uma moral vencida, de uma ética distorcida. E apenas vou andando.
     Se eu fumasse acenderia um cigarro. Se eu bebesse levaria o meu cantil com uísque. Mas eu apenas ando e me levo. Ando e olho a cidade. Ando, olho e penso sobre a cidade. Ando, olho, penso e reflito sobre todos aqueles que vivem nesta cidade. Se eu respirasse sentiria o cheiro da falsa normalidade que é posta a mesa da classe média.
     Passo por um pedinte. Ele me pede algumas moedas. Está mal vestido. Está fedendo. Uma mistura da degradação da sociedade com a sua própria responsabilidade de ter feito escolhas que sairam erradas, ou que não foram as mais acertadas. Eu não tenho moedas. Nunca tenho. Para pedintes, nunca existem moedas no meu bolso. Deixo ele ali, com a mão esticada para o próximo da classe média que ao passar talvez se compadeça e jogue alguns centavos.
     Eu apenas sigo o meu caminho. Andando na rua. Pensando na classe média.
     Então passo por um adolescente. Bem vestido. Não sei se fede, mas não parecia. Uma mistura de uma sociedade que educa com a sua própria responsabilidade de um dia começar a fazer suas escolhas. Essa classe média é divertida, sempre faz escolhas acertadas. As erradas? Culpa dos outros. Nunca dela. O garoto me pede moedas, para fazer um lanche. Não é do bairro e está com fome. Pobre garoto.
     Abro a carteira e dou uma nota de cinco. Ele sorri. Agradece e caminha na direção contrária. Na direção contrária ele segue. Andando em direção ao pedinte. Na direção que a classe média não quer que ele siga. O adolescente vai seguindo na direção em que vai se encontrar com o pedinte.
     Eu apenas olho. Estático. Eles se encontram. Saem em direção a qualquer lugar. Voltam depois de alguns minutos breves. Eu, estático. Estão com uma lata. Vão fumar uma pedra de crack. O garoto, com a latinha na mão, se chama classe média. Eu, estático, reflito.
     Reflito que até então só os pobres e miseráveis usam crack. E então não era problema da classe média. Mas essa classe que faz média, agora também usa crack. E agora pelos jornais deste novo ano novo eu vejo campanhas que combatem o crack. Certo? Errado? Tanto faz. Agora é problema da classe média.
     De quem é a culpa?
     A classe média diz que a culpa é do pedinte.
     Então tá!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009: O que ficou, mas nem tudo!

Janeiro:
- Expectativa de iniciar no emprego de psicólogo em Luiz Alves;
- Frustração por cancelarem a contratação;
- Desempregado.

Fevereiro:
- Venda de instrumentos musicais e móveis para entrar na Clínica de Psicologia;
- Imprimir primeiros cartões.

Março:
- Primeiro atendimento na clínica;
- Busca por trabalho voluntário (Instituto Crescer);
- Aniversário do Gustavo - presente: livro Zack Power;
- Crio meu perfil no Twitter.

Abril:
- Primeiros contatos para ser psicólogo do Institito Crescer;
- Nada vai bem no lado afetivo, ficando cada vez mais consciente disso.

Maio:
- Compra do livro "Psicoterapia e Relações Humanas" num sebo virtual;
- Uma amiga fala de uma vaga de Psicólogo numa ONG, nada de concreto;

Junho:
- Inicio como psicólogo do Instituto Crescer;
- Abro uma conta do Blip.fm (http://blip.fm/DavidBrak)
- As monografias que comecei a orientar estão finalizadas;
- Meu noivado/namoro rompe de vez, sem voltas.

Julho:
- Inicio meu primeiro romance que conta a história de um velho dentro de um maverick e sua angustias e memórias amorosas;
- Faço cadastro no "Clube dos Autores" (http://clubedosautores.com/)

Agosto:
- Os atendimentos na clínica começar a se consolidar;
- A solidão de solteiro me faz bem;

Setembro:
- Aniversário de 25 anos, me sinto feliz;
- Decido fazer a prova do mestrado na UFSC;
- Abro uma conta no Recanto das Letras;
- Este blog é criado.

Outubro:
- A turma de psicólogos formada em 2006 resolve marcar uma confraternização;
- Decisão de trabalhar melhor a comunicação visual dos meus serviços;
- Tinti diz em alto e bom tom no Rabiscos: O David está de volta!

Novembro:
- Começo a me envolver com novas garotas, sinto que ainda não é hora de um novo namoro;
- Encontro da turma de psicólogos formada em 2006, local foi a Expresso em BC;
- Encontro da turma da biblioteca aqui em casa, muita bebida e muita comida.

Dezembro:
- Tinti e eu iniciamos nossa maratona noturna;
- Formatura de Farmácia na farmácia e depois deixando as pessoas na mão;
- Ganho um marca-página da Mari antes da formatura;
- Conheci a Luana, a garota que ia na biblioteca e eu sempre quis conhecer;
- Dei presentes de natal:
1. Uma carteira pro Rani;
2. Um livro pro Guga;
3. Uma caneca de chopp pro Pai;
4. Um chapéu pra Mãe;
5. Um copo de cerveja pra Tinti;
6. Um livro pra Mari;
7. Um livro sobre o Holocausto pro Wagner;
8. Uma blusinha pra Jennifer;
- Ganhei presentes de natal:
1. O Pequeno Principe - Ed. Especial da Mãe, do Pai e do Guga;
2. Uma camiseta do Rani e da Jennifer;
3. Um kit para comer sushi do Wagner;
4. Um livro da Tinti;
5. Um DVD e Pinturas da Mari.
- Virada de ano em BC com a Tinti e o Átila;
- Começo a fazer a retrospectiva 2009...

Muitas coisas faltam nessa retrospectiva, mas estão aqui alguns eventos importantes, os demais serão lembrados com o tempo e provavelmente virão a ser crônicas postadas neste blog.
E que 2010 seja tão intenso quanto foi esse ano que passou...

Nas reticências cruas e cotidianas esse blog deseja a todos força para que possam alcançar seus objetivos e crescer enquanto pessoas!

É isso!

2010: 2000 em 10

Cai uma chuva forte lá fora. Seriam as lágrimas do ano que se vai?
Nem sempre lágrimas são de tristeza, não é verdade? Tem dias que deixo minhas lágrimas de alegria, minhas lágrimas de surpresa e até mesmo as lágrimas de visão cansada cairem. Todo fim de ano é sempre igual. Muitas coisas foram realizadas e outras foram simplesmente esquecidas ou não puderam ser realizadas por inúmeros fatores.
Vou tentar fazer minha lista de 10 coisas que buscarei fazer em 2010.

1. Consolidar na área de Psicologia Clínica;
2. Obter resultados positivos no meu [Stand-up Organizacional];
3. Comprar um apartamento;
4. Viajar de mochileiro para Europa;
5. Publicar meu primeiro livro no formato e-book;
6. Comprar uma bateria;
7. Voltar a tocar numa banda;
8. Terminar de escrever meu segundo livro;
9. Encontrar um amor verdadeiro;
10. Fazer uma lista de 11 objetivos para 2011...