quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Paranoid

     Ainda lembro quando ele chegou aqui. Olhar perdido nas paredes brancas. O cabelo loiro em contraste com os olhos negros. Não tinha qualquer vontade de caminhar, mas caminhava.
     Quando não caminhava sem direção, ficava o dia todo sentado embaixo de uma figueira. E em um desses dias eu me sentei ao lado dele e tentei conversar.
     Ele me disse que tinha terminado com a mulher já que ela não podia ajudá-lo com a mente dele. Ele olhou para mim esperando algum julgamento, mas não entreguei o que ele queria. Então continuou, dizendo que as pessoas pensam que ele está louco, já que o olhar dele possui ira o tempo todo.
     Lembro bem dele esticando os braços e dizer que durante o dia pensa em coisas mas nenhuma delas parece satisfazê-lo. Achava que ia perder a cabeça e não encontrasse algo para acalmar. Coçou a barba e tirou de dentro do bolso da camisa um comprimido.
- Você pode me ajudar? Ocupar o meu cérebro?
- Sim.
- Preciso de alguém para me mostrar o que a vida tem de melhor, essas coisas que não encontro. Acho que estou cego, não consigo nada daquilo que traz a verdadeira felicidade.
- Quer um copo d'água para ajudar com o remédio?
     Ele ficou balançando a cabeça de forma negativa por uns minutos. Estava com o comprimido na boca. De repente ele parou e cuspiu. Uma saliva grossa de quem há muito não bebia qualquer líquido.
- Faça uma piada. Você vai ver que eu vou suspirar enquanto você ri e enquanto você ri eu iriei chorar. Felicidade? Não consigo sentir. Amor? Tão irreal.
     A voz dele era carregada de uma carga angustiante. Não havia qualquer traço de alegria. Ou seria eu que não estava procurando do jeito correto.
- Agora você ouve essas palavras em que eu conto como estou. Só digo a você para que desfrute a vida, pois pra mim é tarde demais.
     Naquela mesma noite ele foi encontrado morto. Overdose de remédios. Nunca descobri o nome dele, já que os médicos nunca revelam informações para outros internos. Porque toda essa paranóia?

Black Sabbath - Paranoid
[http://www.youtube.com/watch?v=JvDcsMiVaLY]
Solicitação de Ruan.

The Climb

     Após dez dias de caminhada por entre árvores, flores e animais, eu encontrei a subida para a Montanha Misteriosa. Relutei em acreditar, nunca alguém havia encontrado. Se encontrou, não voltou para contar a história. Mas eu tinha certeza, aquela era a subida.
     Estava exausto, resolvi deitar e descansar um pouco antes de me aventurar por aquela estreita estrada. Acendi um cigarro de corda, tirei meu cantiu que transportava uma mistura de chá com uisque e me deixei levar pelos encantos da subida. Confesso que cochilei.
     Era nítido que eu quando podia ver o sonho que eu estava tendo. Uma voz suave, feminina e rouca, estava dentro da minha cabeça e me dizia que nunca iria atingir este meu sonho. Mas eu retruquei antes de acordar. Eu disse que cada passo meu, cada movimento perdido e sem direção, cada vez que minha fé treme, eu penso que tenho que tentar. Manter a cabeça erguida com olhos fixos no caminho estreito.
     Acordei assustado com o cheiro do cachimbo do meu avô, que desapareceu procurando a Montanha Misteriosa. Abre os olhos e procurei em volta e lá estava ele, ou que ele havia se tornado. Longos cabelos brancos, um olho cego e o cachimbo sempre no canto esquerdo da boca.
- Não precisa subir. - Disse ele - Existe sempre uma outra montanha.
- Não quero ir contra o senhor. Todos temos saudade. Eu sempre vou querer deixar passar, mas sei que existem batalhas dificeis, como sei também que vou perder algumas vezes. Isso não é sobre quão rápido eu posso chegar ao topo nem sobre o que me espera do outro lado.
- Eu sei, meu neto, é apenas a subida. Então me deixe ir, deixe eu sair da tua memória. Não faça isso por mim, faça por você. Você vai entender que sempre existe uma outra montanha.
     Eu fechei os olhos e deixei ele partir. Era por mim que eu estava ali. Não precisava colocar a responsabilidade em alguém. E as lutas que eu enfrentei, tomando chances que chamo de álcool, às vezes poderiam me derrubar, mas pelo visto não estavam me quebrando.
     Bati a poeira do corpo ao me erguer. Dei mais um gole e mais um trago. E comecei a subir. Eu sabia que talvez não podeira, mas foram aqueles momentos que vão me lembrar que só tinha que continuar. Forte. Eu tinha que ser forte.
    Ao longo da subida eu parava e escrevia. Palavras de incentivo. Continue se movendo. Continue subindo. Mantenha a fé. Mantenha a sua fé. Esta não é a Montanha Misteriosa?
Esta é a montanha chamada vida. Onde você sempre quer subir. E isso é tudo sobre a subida. Por isso ninguém volta para contar. Todos querem subir, ninguém deseja descer. Quem desce se cala e busca a subida.
Isso é tudo sobre a subida.

Hannah Montana - The climb
[http://www.youtube.com/watch?v=NG2zyeVRcbs]
Solicitação de Fernanda.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Basket Case

     Hoje eu acordei confuso. Não sei se é o efeito de uma mistura de loucuras. Fumaça, etanol e tiros no banheiro enquanto o rock rasgava o ar lá no palco. Talvez a distorção das guitarras tenham distorcido o meu mundo e tenham me feito acordar assim.
     Confuso? Você teria tempo pra me ouvir reclamar sobre nada e tudo, de uma vez só? Não sei se você entendeu realmente que eu sou. Sou um desses idiotas melodramáticos. Neurótico até os ossos. Não tenho dúvidas em relação a isso. Então não é isso que me deixa confuso.
     As vezes eu mesmo me dou sustos, as vezes minha mente prega peças em mim e tudo isso vai se somando sem parar. Acho que estou pirando. Sou apenas um paranóico ou só estou chapado?
     Não responda alto. Só deixa eu te contar que ontem fui a uma psiquiatra para analisar meus sonhos. Não entendo muito de psiquiatria, mas ela me disse que essa confusão é falta de sexo e que isso me deprime. Então, ontem a noite eu peguei uma prostituta, e ela me disse que minha vida é um saco e que eu devia parar de reclamar porque o tédio dela estava crescendo.
     E então eu me entreguei ao rock. E então eu acordei confuso. Fugindo do controle. Então é melhor eu me segurar.
     Afinal, sou um caso perdido.


Green Day - Basket Case
[http://www.youtube.com/watch?v=hitMpM-P-Bs]
Solicitação pelo Twitter de @Jacobsen_A

sábado, 19 de dezembro de 2009

Portugal de Navio

     Ligou a televisão no canal 16. O homem do tempo previa um dia ensolarado. Então resolveu ir deitar e pensar no garoto que tocava bateria num dos bares da cidade velha. Gostava do seu pensamento mutante pintado com canetinhas hidrocolor.
     Ajeitou o pijama sorrindo. Desligou a televisão e foi para cama. Encostada no travesseiro de algodão pegou na gaveta do criado-mudo a foto 3X4 que tinha dele. Suspirou e sorriu de novo.
     Ela sinceramente tentou amá-lo, mas do mesmo modo sincero também sabia que ele nem ao menos sentiu. Alisando o cabelo dele, liso e com modelo anos 70, sussurou baixo:
     - Eu tentei te encontrar, mas você me fugiu.
     Foi então que uma idéia surgiu para acabar com aquele sentimento. Hoje ela iria mandá-lo pra Portugal de navio. Deu uma gargalhada de quem sabia que estava pensando algo nada inteligente.
     E durante o sorriso foi que teve um susto. A foto piscou para ela e começou a falar. Ela deixou o tempo passar para tentar parar e se acalmar. Mas a foto insistiu e gritou:
     - EU VOU MUDAR! EU VOU TE AMAR! - Os gritos foram tão altos que mal dava para escutar dois pássaros cantando "sharararara" entre um grito e outro.
     Ela deixou a foto cair no lençol lilás e saiu correndo para a sala. O coração batia em ritmo acelerado. Ligou a televisão no mesmo canal. O homem do tempo ainda estava lá. Ele sorriu para ela e disse de modo calmo:
     - Você ainda não me viu de pijama sorrindo, a brincar.
     E quando ela piscou, na televisão era ela. E quando acordou, o mundo estava pintado com canetinhas. E quando suspirou deixou a loucura ir embora e pode tentar amar a mesma foto 3X4 que repousava muda na gaveta.

Os Mutantes - Portugal de Navio
[http://www.youtube.com/watch?v=IVtC12-vmRI]
Solicitação de Keit.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Somewhere Over the Rainbow

     Olhou pela janela do quarto onde estava trancado a tarde toda e viu que a chuva havia parado e alguns raios do sol ultrapassavam as nuvens de um cinza claro. Resolveu abrir a janela e deixar o cheiro de terra molhada entrar. No horizonte um arco-íris repousava levemente. Foi então que ele pensou nas coisas que ele encontraria em algum lugar além do arco-íris. Fechou os olhos e se deixou levar.
     E em algum lugar além do arco-íris, bem lá no alto posso ver os nossos pássaros azuis voando e lembro dos sonhos que você sonhou e neste lugar eles realmente se tornaram realidade.
     Pode parecer mentira minha, mas eu sei que em algum dia eu vou fazer meus desejos sobre uma estrela e ao acordar estarei em um lugar onde as nuvens estarão atrás de mim, onde todos os problemas do mundo derretem na boca como se fosse apenas balas de limão.
     Em algum lugar além do arco-íris, lá longe no horizonte, bem acima dos topos de chaminés das fábricas de sonhos materiais, você pode me encontrar. E não sei se já comentei que os pássaros azuis voam. São apenas sonhos, sabe? E se você os desafia, porque eu não posso também enfrentá-los de frente?
     Olhando isso, vejo que esse lugar qualquer além do arco-íris é um tanto chato, pois, bom, eu vejo árvores verdes e algumas rosas vermelhas também, eu sei disso porque eu as vi florecer pra mim e pra você, e eu penso aqui debruçado na janela "que mundo maravilhoso e chato".
     Bom, assim como os pássaros o céu também é azul e o dia brilha, embora eu goste do escuro insisto no pensamento de que o mundo é maravilhoso e chato. Então me volto ao nosso mundo e me fixo no arco-íris e nas pessoas que caminham pelas ruas úmidas da cidade. Vejo alguns amigos se interessando um pela vida do outro e eles realmente se amam. Amam?
     Eu volto a fechar a janela e ouço bebês chorando e quem sabe eu os veja crescendo e se tornando amigos e quem sabe eles vão aprender muito mais daquilo que nós sabemos e não desisto daquele pensamento de que o mundo é maravilhoso e chato.
     E em algum lugar além do arco-íris eu deixo as estrelas, as nuvens, as balas de limão. Deixo também os sonhos que você desafiou e que eu não tive coragem de desafiar. Porquê eu não posso?

Israel Kamakawiwo'Ole - Somewhere Over The Rainbow [http://www.youtube.com/watch?v=0ltAGuuru7Q]
Solicitação de Luana.

Um desafio

Diga-me uma música que te escrevo uma crônica...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Postagem Curta

Cansei.
Nenhuma palavra deseja sair para ser lida por outros ou mesmo por ninguém.
Procure um dicionário mais próximo.

Volte em breve.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tédio urbano

    Entediado, sento no banco da praça e fico vendo o sereno descer e deixar aos poucos meus poucos fios de cabelo úmidos. Não, na verdade não é bem tédio. Talvez uma pequena e suave tristeza que bate lentamente no peito.
    Estou sozinho, acompanhado de uma garrafa de vinho tinto seco e alguns cigarros que roubei da bolsa de uma mulher em uma dessas reuniões de comemoração de tantos anos de formado. Canto algumas músicas para quebrar o clima de silêncio angustiante. Essa é a minha noite, a primeira noite do resto da minha vida.
    Penso nos dias que antecederam esta noite úmida. E um estardalhaço de memórias urbanas invadem minha mente. Como eu gostava de pensar que eram memórias poéticas, mas não. Simples memórias urbanas, cinzas e densas, que ficam horas paradas em um engarrafamento mas que ao encontrarem transito livre percorrem a estrada da lembrança em uma velocidade que não posso mensurar.
    E nesta noite todas estas memórias encontraram este maldito e abençoado transito livre. Acendo um cigarro, mesmo sabendo que não sou um fumante. Apenas quero me sentir sujo por quebrar alguns dos meus principios. Do mesmo modo, bebo o vinho no gargalo e deixo um filete escorrer pelo canto da minha boca como se esperasse que alguma mulher estivesse ali para limpar com um beijo doce.
    Beijos doces. Como isso seria poético se não fosse o meu modo de ser com as mulheres. Lembro agora de uma certa vez que escrevi uma carta vergonhosa as mulheres, revelando o modo como eu as uso para poder escrever. Seria poético, mas é urbano e por ser urbano não vou revelar minhas memórias. Deixarei para outros contos, crônicas e poemas.
    Hoje só quero deixar o sereno tocar o meu corpo, fumar um cigarro e me embriagar. Sem falsos moralismos, sem falas que encantam. Hoje serei eu comigo mesmo. E viva essa minha vida urbana, fadada ao esquecimento e às dores de amores que finjo esquecer.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Mais uma saideira...

As pessoas caminhavam tonteantes por entre as mesas do bar. Alguns esbarravam na minha cadeira, outros esbarravam em si próprios e na sua vida que estavam tentando esquecer. Eu virado para ela, via um cenário passando atrás. Três garotas tatuadas e uma cerveja na mesa. Uma mesa vazia com três cadeiras vazias. O muro sem reboco pintado de branco. Uma árvore cortada que um dia tentou atravessar o telhao de fibras. E neste cenário, eu a via como estrela principal.
Seus olhos mareados de lágrimas que insistiam em não descer. Sua voz que tentava esconder um leve desespero sumia com os goles da cerveja, gelada do jeito que ela sempre gostou. O maço de cigarros sobre a mesa estava amassado, quem diria, ela dormiu com ele no bolso a noite anterior. Desastrada.
Eu só a escutava. Meu copo numa dança frenética entre estar cheio e estar vazio. O cheiro do cigarro dela grudando na minha roupa. Meus olhos miudos do sono. Meus ouvidos sempre atentos a cada palavra dela. E ela falava dele. E de quando ele iria embora. E de como ela não tinha coragem de dizer o quanto sentia por ele ir para tão longe.
Longe, essa palavra subjetiva que todos insistem em usá-la como algo concreto. Não estaria ela longe dele? Onde estaria ele? Segundo ela, seria melhor mesmo que ele fosse embora. Em boa hora. Não queria mais chorar sozinha. Não queria mais falar nele e de como ele era um idiota por deixar ela não revelar os verdadeiros sentimentos.
Tocou uma música nada conhecida. "La nuova giuventú". Tudo que sei é que você quis partir, eu quis partir você, tirar você de mim, demorei para esquecer, demorei para encontrar um lugar que você não me machucasse mais...
Esse era o sentimento. Essa era verdade. A real verdade.
Verdade?
Seremos sinceros. A verdade minha amiga é que estamos sempre nós dois juntos, sozinhos na busca de um amor que nos incomoda em ter, mas que queremos muito. Para chorarmos juntos nossas mágoas.
E que venham os outros amores e nossas próximas lágrimas por não termos os aceitado. Por termos escolhido fazer igual sempre. Será mesmo que o pra sempre sempre acaba?
Então? Desce mais uma original?
Essa é a saideira...
Só mais uma saideira.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Alguns dos meus Eus

Imerso em sua vida, Sandoval, meu heterônimo depressivo, buscava pacientemente, em algum lugar dentro de si, sair da cama em que estava deitado há mais de dois dias. Procurou no cérebro estagnado em memórias tristes e por estar nesta estagnação nada encontrou. Procurou no coração amargurado pelas dores dos amores cotidianos e por estar nesta amargura nada encontrou.
Sandoval decidiu ficar mais alguns minutos ali, esperando que algo de fora pudesse mexer no seu mundo. Mas como as mudanças entrariam no seu mundo se ele estava fechado dentro de um quarto de portas e janelas trancadas? Talvez algum espírito ou uma alucinação. Foi quando saiu de dentro do guarda-roupa uma combinação de ambas.
E era ele mesmo, ou eu mesmo, ou um outro de nós dois.
Anelise. Olhos de um castanho escuro. Lábios carnudos. Cabelo curto. Era o meu hererônimo histérico. Disse que estava tentando sair dali e puxar conversa há dias, mas não sabia o que poderia esperar. Ficou com medo de não ser aceita ou não ser entendida. Suas mãos estavam trêmulas tanto quanto sua fala. Sentou-se na cama ao lado de Sandoval e deixou que seus pés também ficassem trêmulos. Perguntou se existia naquele quarto escuro algum destilado forte. Sandoval afirmou que não.
Ficaram mudos por um bom tempo, até escutarem alguém batendo na porta. Quem seria? A porta se destrancou rápida e parecia algo mágico, pois a chave se movimentou sozinha. Quem entrou foi um ser radiante e com um sorriso largo. Adalberto, meu heterônimo maníaco.
Perguntou onde estava a alegria deles. E porque se perdiam em problemas. E porque não paravam de pensar que os problemas eram maiores que as soluções. Era uma felicidade sarcástica, uma alegria ácida. Queimavam as roupas de Anelise e Sandoval. Adalberto era realmente radiante. Como uma criança pulava em cima da cama e deixava seu corpo cair e ria muito.
Sandoval continuava com o olhar perdido e sem vida.
Anelise continuava a ficar trêmula e perdida em fantasias.
E os três não notaram que o meu verdadeiro eu os espiava de dentro do espelho.
Alguém me define?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O primeiro vômito...

Eu sinto o gosto de uma água salgada subindo. Enche a minha boca e eu cuspo fora. Tomo mais uma dose de uísque. O embrulho no estomago faz minha cabeça latejar.
Levanto e cambaleando vou até um muro sem reboco. Abro o zíper e deixo um pouco do alcool se esvair de mim. Minha cabeça gira, meu olhos tentam se concentrar em algo. Apoiando minha mão no muro, deixo o que há de podre sair de mim. Sem qualquer receio, tudo sai pela minha boca. Antes ligo o gravador e aqui deixo o registro:

REC
"Estou embriagado pela solidão. Bebi tudo o que ela me oferece. O gosto salgado do suco gástrico queima minha garganta, mas não me cala. Ficaria mudo se quisesse, mas não quero. Olhos nos olhos da juventude vejo as poucas verdades que esses jovens têm para falar. Falam de sexo sem nunca terem conhecido os seus próprios corpos. Falam de drogas sem nunca terem encontrado os seus próprios limites. Não venham com argumentos que isso se chama atitude juvenil. Isso se chama burrice. E a burrice da juventude me faz sonhar com os ditadores. Nos dominem antes que nós mesmos nos escravizamos através da falta de vontade de mudar o que ai está."
STOP

Depois desse vomito, me senti bem. E fui curtir a minha juventude, tão burra e com tantas mudanças para se fazer, e com tanta pouca vontade de fazer acontecer. Sentei na cadeira do bar e pedi mais uma dose e sonhei estar transando com a garota loira que jogava sinuca.
Até um outro dia, em um boteco qualquer...