terça-feira, 29 de setembro de 2009

Material e Espírito

Despindo-me de mim mesmo, jogo o material sobre a cama e preparo a banheira para dar banho no espiritual. Mas meu espiritual sente frio, fome e cansaço. Deixo a banheira para depois. Desço as escadas tentando não acordar os outros. Outros quem? Não existe alguém que se incomode ou note minha presença. Se existe, não se revelou. Então sigo em frente. Preparo uma salada de frutas reforçada. Sento na cadeira de madeira. Gelada. Sinto arrepios. Como lentamente a salada de frutas enquanto meu corpo se acostuma com o frio.
Como mas deixo as sobras sobre a mesa. Penso na banheira de água morna que espera meu espírito. A idéia me agrada. Deixo tudo de lado e volto ao banheiro subindo correndo as escadas. Adiciono a água da banheira essência de camomila. O perfume invade a casa. Se ainda estivesse com os meus pulmões eles também seriam invadidos.
Fico ali, com o meu espírito, estático na banheira. Não penso nos males da alma. Não penso nas pedras da vida. Não penso nessa droga chamada amor. Fico ali. Deitado horas e horas. Tudo parece tão sóbrio nestes dias de miséria material.
Pego a toalha e não me seco. Lembro de última hora que o espírito não se molha e nem úmido fica. Dou um sorriso quando passo frente ao espelho. Pego o material jogado sobre a cama. Está amassado pelo tempo. Não me importo, é apenas material. Me visto com o meu corpo. E tudo volta.
Penso nos males da alma. Penso nas pedras da vida. Penso nessa droga chamada amor. Fico ali. Parado horas e horas. Tudo parece tão embriagado nestes dias imerso de miséria material.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ejaculação

Não me venha com esses versos puros de menina de virtudes frágeis e cálidas. Não me diga que não posso ter esse espírito sem pudor, sou um anjo pornográfico que erotiza tudo que escreve. Meus dedos masturbam as teclas dessa máquina de escrever vagabunda, que nada pede quando eu a toco e procuro o seu ponto e o G.
Desculpa minha ignorância. São os meses sem fazer amor com as páginas nuas dos livros de poemas. Esfregando meu membro na cara fudida de.........................................................................................
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Aaaaaaaaaaaah
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Desculpa, ejaculação precoce!

domingo, 27 de setembro de 2009

Paradoxo

Palavras ao vento misturadas com mel.
Harmonia sem fim em um caos controlado.
Vazio intenso repleto de cores.
Sentidos, sentimentos. Vozes.
Eu.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A verdade sobre minhas mentiras amorosas

Querida,

Queria poder dizer que me apaixonei pelo teu jeito de ser, mas estaria mentindo. Você talvez nunca saberia que eu menti em relação a isso, mas cansei de iniciar relacionamentos tendo a mentira como ponta-pé inicial. Posso dizer que você me inspira, e isso é verdade. Mas paixão é algo que há muito tempo eu não sei o que é, já que a última vez foi em outra vida, quando ainda não havia renascido nesta.
Gostaria que você não se chateasse por isso, e vou te explicar o porque. Na primeira vez que entrei em um relacionamento utilizei da mentira para que a pessoa sentisse pena do meu ser. No começo foi ótimo, ela era meu anjo da guarda e eu era vítima de algo que era mentira. Mas os dias foram se passando e utilizei desta minha mentira para ferir a pessoa que estava ao meu lado e que dizia me amar. Então tudo terminou. E agora ela está longe, a garota e aquela mentira.
Então veio o segundo relacionamento. E comecei com a mentira de que nada sentia em relação aquela garota que estava longe. Menti para mim mesmo. Todos os dias eu acordava e dizia para mim que eu não me sentia arrependido por ter mentido e ter deixado escapar aquela garota que cuidava de mim. E então eu mentia dizendo que amava está nova pessoa que estava ao meu lado. Mas, querida, a mentira dói e sufoca. E então resolvi falar a verdade para mim mesmo. Então mais uma vez tudo terminou. E agora ela também está longe, a garota e aquela mentira.
Resolvi dar um tempo para eu pensar. Não queria mais mentir. E veio o terceiro relacionamento. Sem mentiras? Não. Não seria assim fácil, se é que você pode me entender? Menti tanto para a garota quanto para mim, afirmando que era para sempre, que embora diferente eramos iguais. A mentira realmente é algo que sufoca, tentei ser diferente mas um dia ela esfaqueou a minha mente e gritou: BASTA!
Adivinha o que aconteceu? Sim, pela terceira vez tudo terminou. Pela terceira vez ela também está longe, a garota e a mentira.
Minha vida foi sempre essa mentira, mas que de tão podre está servindo de adubo para que uma nova vida cresça, como uma flor de lótus. Por isso quero que você saiba a verdade, eu não estou mentindo para você. Eu não estou apaixonado. Mas a cada dia você me cativa mais e mais. E não quero estar com você por apego, quero ir me apaixonando aos poucos, para que dure uma hora inteira e não apenas dois segundos.

Aguardo resposta,
Com carinho

David.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Matou

Sentada na solidão de um quarto fechado ela cortava os cabelos negros lentamente. Havia decidido deixar para trás as marcas de um passado turbulento e sentir os novos ares do futuro. Então ali estava, com o corpo branco e nu sentada no chão frio do seu quarto.
Os lápis preto escorrendo pelo rosto, devido a chuva que caía forte lá fora, dava um contraste quase de cadáver a ela. Os lábios sem qualquer traço de batom estavam roxos de frio. A respiração estava pesada. Não queria pensar no que poderia acontecer, se o que havia feito era algo lovável de comemorações. O que sabia era que o futuro havia batido a porta.
De repente um estrondo de raios e trovões tremeu os vidros do quarto. Repousou a tesoura ao seu lado e se ergueu. Olhou-se no espelho quebrado, sentiu-se atraente. Os mamilos rosados. O ombro com rosas vermelhas tatuadas. Deu a si própria um sorriso com um leve ar de erotismo. Estava preparada.
Ela matou a Morte e foi obrigada a tomar o seu lugar. Pegou seu instrumento de trabalho. Colocou sua meia arrastão 3/4. Pôs o seu vestido negro. E desapareceu prometendo que um dia ela aparece para você.

sábado, 12 de setembro de 2009

Desejo sem fim...

...de que adianta eu falar todos os meus sentimentos por ti se você ainda está presa ao seus sentimentos que são todos dele? Prefiro me abraçar a eternidade deste momento e sonhar que após tudo isso eu ainda serei meu, mas serei tão meu em ti. Sem Si, em Dó ou em qualquer escala.
E se eu te amasse desde daquele dia?

Enquanto isso no Inferno... parte 2

O Diabo quis saber porque Deus recebeu um post maior que o dele. Pura maldade!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

E enquanto isso no céu...

E no oitavo dia, Deus acordou.
Ajeitou-se na cama e mentalmente chamou um dos anjos. Aquele que estivesse mais próximo que viesse. Não gostava de chamá-los por nomes, até porque não havia dado qualquer nome a eles e talvez, se tivesse mais tempo, poderia dar uma forma pronta. Mas deixou que se divertissem a vontade em relação a isso.
Assim, logo Deus foi atendido por um dos anjos. Com senso de humor, Ele riu deste que ali se apresentava e soltou o comentário: - Você tem asas, como as aves. Também põe ovo?
O anjo sorriu e até pensaria em ficar chateado, mas Deus tudo sabe, e de nada adiantaria esconder aquele sentimento. Pediu em que poderia ajudar. Deus pediu então que ele sentasse ao seu lado e contasse como estava a sua criação e dessa vez o sorriso do anjo saiu meio sem graça. Arrumou suas penas e começou a falar.
- Desde ontem, quando o Senhor tirou o dia para descansar, já se passaram milhares de anos da Vossa criação e pelo que temos visto, não está nada bom. Todos são muito egocêntricos e acreditam que o seu planeta é o único com vida inteligente. E em cada planeta existe um monte de problemas sociais, desigualdades e vários dizem que fazem isso porque Vossa pessoa assim quis e assim mostrou em sonhos. Não sei não, hein Deus! Mas o negócio está feio.
Deus tentou coçar a cabeça, mas não tinha uma. Nem mãos, nem dedos, nem forma. Mas tinha um sorriso, era maravilhoso. O anjo ficou sem saber o porque do sorriso, pois não parecia ser algo triste ou desapontado.
- Porque o Senhor ri? Se a Vossa criação é uma desgraça?
- Ora meu jovem anjo, enquanto você falava eu fui verificar dentro das pessoas. Porque o principal da minha criação não foi o mundo exterior, mas sim o mundo interior, particular de cada um. O exterior serve apenas para ser experienciado e servir de aprendizagem.
- Mas Senhor, eles dizem que decifraram o código da vida e deram o nome de DNA. E estão brincando de ser Deus. E alguns nem acreditam que o Senhor existe.
- Está aí algo que é muito sério. Porque o código da vida não está no DNA, está no coração de cada um. Quem encontrar a vida no seu coração não precisará brincar de ser Deus, pois não tem graça. Se brinca apenas seis dias e no outro já se está cansado.
- Não havia pensado nisso. - Disse o anjo.
- Eu também não. Alias, você acha que quando eles se destruirem, na minha próxima criação eu devo colocar inteligência neles?
E então, tudo se apagou. E assim Deus criou novamente a escuridão, com a idéia de criar um tal de Adão e uma tal de Eva, e se divertir com isso.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Nossa Amada.

Gritem. Vamos. Gritem bem alto para que todos possam ouvir. Não. Não quero que sussurrem. Quero que vocês gritem: "Este homem é louco, se apaixonou por uma imagem!". Porque vocês não gritam? Têm medo de se tornarem loucos, tão loucos quanto eu?
Para quem não está entendendo essa discussão que agora está quase no fim, vou ser redundante e começar pelo início, e começo com o sóbrio "era uma vez...". E era uma vez, eu. Sim eu mesmo. Tão breve que tropeçava em minhas próprias palavras e tão míope que não enxergava a minha própria ignorância, que resolvi passear por este mundo virtual. E foi nesse mundo que a encontrei. Estática. Suavemente estática. Uma simples imagem colorida.
E eu, em minha inocência desvairada, deixei meu coração aberto para que a imagem pudesse entrar e assim senti as batidas de alguém calado, sempre com a mesma expressão. Sempre com o mesmo batom vermelho. Sempre com as mesmas unhas vermelhas.
Se ao menos pudesse te colocar em um quadro, você decoraria o ambiente e, então, eu saberia que tudo não passava de algo tão "Salvador Dali". O que me deixaria confuso é saber se por dentro eu me tornaria dadaísta ou se por fora eu seria surrealista. Magritte se puderes perdoar também minha ignorância.
Minha imagem. Cheia de pinturas em sua pintura. Em cada movimento estático um novo quadro se revela. Minha imagem, és o próprio "Musée du Louvre" e todos os movimentos artísticos repousam em ti. E você não sabe, mas enquanto aqui falo de ti, lá em baixo, por todo reino, os meus amigos me chamam de louco. Não chamam, sussurram. Mas é porque nunca viram você. Essa imagem velada de palavras, mas repleta de signos.
Sou louco, concordo com eles. Mas não sussurro. Com os dedos sujos de tinta, continuo a escrever e minha paixão se tornará pública. Mas tenho medo. Tenho medo que um dia eu venha a te conhecer e descobrir que te amava mais quando ainda eras essa simples imagem.
Por hoje, tua imagem.

Enquanto isso no Inferno...

E pobre do Diabo, hoje mora na periferia e tem que aceitar em sua casa todos os filhos que não são seus.

Palavras em greve

Minhas palavras estão em greve. Vou ficar apenas com as que resolveram trabalhar, os pontos e vírgulas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nas asas de Gabriel

Sentado no parapeito do terraço do prédio mais alto da cidade, Gabriel olhava o mundo que seguia seu rumo lá embaixo. E como era engraçado ver a humanidade de tão alto. Ele, com seus olhos azuis e seu cabelo loiro encaracolado, gostava desse sentimento de não poder ver o rosto dos homens e mulheres que lá passavam, cada qual imerso em seu próprio problema.
O que achava engraçado era como cada pessoa carregando sobre sua cabeça o seu problema não se colidia com o problema do outro que vinha em sentido contrário. Mas sabia que nem sempre era assim.
Lá do alto, percebeu que dois jovens discutiam, talvez encenavam uma discussão, mas era tão certo que não. Gabriel gostaria de poder ouvir lá do alto, mas não era responsável por aqueles dois garotos, então se contentou em imaginar o que era. Talvez fosse por conta do amor que ambos sentiam pela mesma garota. Talvez fosse o ódio que sentiam por ser irmãos do mesmo pai. Embora com tantas possibilidades de "talvez", o mais correto era a certeza que era uma coisa fútil e sem sentido. Algo tão humano quanto chorar.
E Gabriel gostaria de saber o que era chorar. Tentou várias vezes e não conseguiu. A última tentativa foi olhar com certa ignorância os que caminhavam solitários lá embaixo e, ao mesmo tempo, o sol se pondo no horizonte por trás das nuvens densas e cinzas de poluição, o que dava um aspecto melancólico.
Como todos sabem, ele era Gabriel. Tinha olhos azuis e cabelo encaracolado, e isso ninguém dúvida. Não sabia exatamente quantos anos tinha, mas tinha aspecto juvenil, e isso ninguém dúvida também. Sempre teve um bom coração e ajudou a todos que pediam por sua ajuda, e estes por mais que não quisessem só lembravam dele quando outra tribulação surgia em seu horizonte particular. E mesmo com tudo isso, Gabriel queria chorar, e nunca conseguiu, tudo por conta do seu criador. Aquele que todos os dias o sufocava com pedidos de "ame a humanidade".
Mas, já era tarde. E a noite veio juntamente com os carros de luzes asmáticas lá embaixo. Era hora de partir. Gabriel não se despediu da humanidade lá embaixo. Sabia que em breve se veriam novamente. Ficou em pé no parapeito. Abriu os braços e voou.
De olhos fechados sentiu o vento da noite tocar o seu rosto, passando rápido e revirando seus cabelos loiros. Uma sensação de liberdade, como que voar fosse o que melhor pode acontecer. Contudo, foi um vôo breve, não durou mais do que segundos. Pouco antes do fim acontecer, Gabriel abriu os olhos. Estava apenas a alguns centímetros do chão. Foi então que ele se lembrou que não era anjo. Era apenas mais um suicida.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A maionese, o refrigerante e os pensamentos

E de repente você encontra aquela pessoa que você sempre buscou. Mas você está de meias e chinelo. O cabelo está um tanto desarrumado. Uma mancha de maionese na camiseta preta e um negócio verde nos dentes da frente.
Ela te sorri, e você todo sem jeito derruba o copo de refrigerante e molha o chão da padaria. Então você pensa: "Porque exatamente estou tomando refrigerante as oito horas da manhã?". Você tenta não olhar para ela. Com vergonha encontra o espelho que fica nas costas dos cestos de pão e você percebe que ela te olha sorrindo e balançando a cabeça.
Você balança as pernas e procura algo para se limpar. Tudo em vão. Limpar a sua imagem era o que você realmente precisaria. Enquanto esfrega o guardanapo na camiseta preta, um pensamento te dá um soco na boca do estômago: "Ela está rindo para mim ou de mim?". Atormentado.
Que direitos ela tinha para, em plena segunda-feira, entrar na padaria e agitar assim o seu mundo. Se ainda fosse da região, mas você tem certeza que essa pessoa não morava por ali perto. Ou será que frequentava outras padarias? Talvez fosse hora de ir em busca de novas padarias. Mas essas outras padarias te permitiriam entrar de chinelos e meia? Talvez fosse melhor que não permitam, muito menos que se beba refrigerante e se coma empada com maionese as oito horas da manhã. Indignado.
Então, você decide olhar para pessoa novamente e decidir se ela realmente sorri para você. Mas devido aos pensamentos você descobre que não percebeu que ela já havia ido embora. Procura a sua volta e nada, nem qualquer outra pessoa. Ficou só você e o atendente. Você dá de ombros. Desmotivado.
Levanta o copo de refrigerante, coloca mais maionese na empada e pensa: "...".

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Jornal de Folhas Cinzas

Lendo os noticiários no jornal percebo que falta alguma coisa ali. Mas parece tudo tão igual. As letras estão impressas, acompanhadas de algumas fotos ilustrativas. A tinta que solta e deixa a ponta dos meus dedos cinza também está ali, intacta.
Esse sentimento de que falta algo naqueles inúmeros papéis organizados de modo minucioso a estabelecer uma lógica sensata de ordem e de preservação de seu conteúdo me faz perguntar: O que falta? Olho o todo e as partes. Também estão ali os repórteres, ou colunistas e a publicidade, esta última dando cor ao cinza, ao preto e ao pouco branco ali presentes.
Resolvo ler o jornal partindo da última página e buscando a primeira na ânsia de encontrar aquilo que ali não encontro. Em vão, leio pela segunda vez as mesmas matérias e nada. Não acho o que falta.
Deixo o jornal repousando sobre a mesa de centro, tiro os óculos e esfrego os olhos que passam a arder ainda mais em contato com os dedos sujos de cinza. Penso nas matérias, nas colunas, nas gravuras e nos preços dos produtos anunciados e me surge frente ao meu nariz o que faltava.
Hoje quando acordei procurava um pouco de humanidade. Pensei que encontraria nesse amontoado de folhas e palavras que foi jogado, pelo garoto em sua bicicleta vermelha, sobre as bromélias molhadas do quintal. Mas como posso encontrar essa humanidade ali, se ainda não a encontrei aqui, dentro de mim?
Outra hora penso em um fim para este texto sem humanidade alguma.

domingo, 6 de setembro de 2009

O Tempo

O celular me desperta acordo medito levanto troco de roupa lavo o rosto amassado pelo travesseiro e desço para tomar um café que vai realmente me acordar o cheiro me dá um embrulho no estômago então tomo um copo de água antes pego uma xícara e repouso sobre a toalha suja de farelo dos outros que acordaram antes de mim o café aquece essa xícara e é amornada quando o leite se mistura tomo um gole amargo o pão adormecido com o doce de morango e nata cansam a musculatura do meu maxilar termino e subo para escovar os dentes pego a escola coloco o creme dental antes lembro que tenho que respirar.
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Respiro.
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Escovo os dentes como aprendi com o dentista quando ainda era criança mas não limpo a pia como deveria ter aprendido com minha mãe quando eu também era criança e penso que ela deveria ter me ameaçado com uma broca e com aquele barulho irritante então decido que estou atrasado e tenho que correr para meu trabalho e lá vejo que poderia ter ficado mais alguns minutos parado atrás daquele carro vermelho que insistia e estar no meio da rua como se só ele pagasse os impostos chegam os clientes e mais uma vez vem o pensamento de que devo respirar.
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Respiro.
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Fim de tarde tudo resolvido ou quase tudo encaminhado ou quase tudo ficou para trás e vou terminar amanhã que ainda vai ser um dia qualquer da semana que não me lembro exatamente qual chego em casa estaciono o carro na garagem apertada e saio exprimido batendo com a porta na parede e deixando-a a cada dia mais arranhada encontro frutas na fruteira sobre a mesa como alguma e subo troco de roupa e vou correr corro todos os dias sete quilômetros mas quando penso em correr aquele pensamento passar uma ultima vez na minha mente.
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Respiro.
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Corro até cansar e chego em casa tomo um banho arrumo as coisas para o dia seguinte arrumo também o despertador do celular e pego uma revista para ler enquanto finjo não ter qualquer culpa em estar com sono e não estar adquirindo qualquer conhecimento relacionado aquilo que está impresso nas páginas amassadas daquela revista então penso que chegou a hora de apagar a luz do quarto apago e jogo a revista em um canto sento e finjo que vou meditar e ao sentar lembro como será o meu dia e ao invés de respirar me vem outro pensamento.
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Suspiro.
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Eu sou...

Sou uma pessoa que não gostaria de ter me tornado passando agora pela costa americana é a ideologia de um mundo globalizado, capitalista e desumano o que acontece em boa parte do globo terrestre é aquele animal que vive apenas na terra, enquanto os aquáticos vivem na água doce ajuda a acalmar quando você está estressado e precisa relaxar.
Eu sou assim e não "açim". Sou clássico, moderno e pós-moderno. Tenho tatuagens que você não pode ver, mas que não saem nem com laser.
Eu sou. Eu fui. E em breve serei.