terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Castelo de Cartas

     Coloquei a última peça que faltava no meu castelo de baralhos. Lá no topo o rei e dama de mãos dadas para não serem levadas pelo vento. Fiquei ali debruçado olhando a magnitude da minha criação. Cada carta dando sustentação para a próxima e está para a seguinte, e assim por diante. E lá no topo o rei e dama, de mãos dadas.
     Deixei minha arquitetura ali. Para que as pessoas pudessem ver o quão engenhoso pode ser o cérebro humano. Estava feliz, mas foi por um simples momento. Ao abrir a janela e pedir para todos virem observar uma das sete maravilhas do meu mundo deixei que o vento viesse e inflasse o meu quarto de ar. O mesmo vento que ao entrar acariciou os meus cabelos, foi o que destruiu sem qualquer piedade o meu castelo.
     O rei e a dama estavam longes um do outro, talvez embaixo dos escombros. Um aperto no peito. As lágrimas surgiram ainda mais salgadas. Porque as pessoas existem? Porque elas não se contetam em observar os próprios castelos? Porque ninguém vinha se desculpar por ter feito eu abrir a janela do meu quarto e solicitar que eu as chamasse? Meu rei e minha dama estavam jogadas pelo quarto, misturadas com a grande plebe de cartas.
     Fechei a janela e mandei o vento embora. Que ele nunca mais entrasse para me acariciar se logo em seguida fosse destruir meu castelo de cartas. E então eu reuni todas as cartas e comecei a alinhá-las. Uma a uma. Com todo amor que tinha por elas. Repousei o rei e a dama no meu colo deixando que olhassem o seu castelo ser reeguido por um grande engenheiro.
     Algum tempo depois estava pronto. E lá estavam novamente os dois de mãos dadas. Não iria chamar ninguém para ver. Levantei devagar e abri a porta e descobri que o vento dá a volta. E lá se foi meu castelo para o chão. Controlei o choro, eu tinha sete anos. Estava crescendo. E apenas entendi.
     Entendi que na vida muitos ventos irão colocar meu castelo no chão. Que muitos ventos irão afastar o rei e a dama. Mas foi só com o tempo que eu descobri que a culpa não é do vento, a culpa não é de qualquer pessoa. Castelos de cartas são feitos para serem derrubados e reerguidos.
     Só com o tempo eu entendi que a minha vida é o meu próprio castelo...

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