domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Trilogia de um carnaval: Ato 1 - Pierrot

     Estava sorridente. Colocou seu tênis preto all star. Meias brancas na altura da canela. Bermuda preta. Cinto branco. Camiseta preta. Ajeitou os alargadores. Colocou o MP3 player no bolso e ajustou os fones no ouvido. Na playlist o melhor som que podia existir.
     Olhou no relógio. Faltavam cinco para meia-noite. Lá fora o carnaval estava começando. Não era um folião, muito menos gostava dessa festa. Não aceitava bem a idéia de corpos se tocando em busca do simples prazer carnal. Mas ele não tinha tempo para pensar nisso. Olhou mais uma vez no relógio, haviam combinado de se verem meia-noite. E agora faltavam quatro minutos.
     Durante toda a semana ele havia pensando nela. Tinha a resposta para aquilo que ela iria perguntar. Sim. Ele estava pronto para amar. Então tirou o telefone no bolso e discou o número dela. No visor surgiu o nome "Colombina". Estava chamando. E ela iria atender. Iria dizer que estava pronta e que ele poderia buscá-la onde quer que ela indicasse. E continuou chamando. Chamando. Apertando o coração de Pierrot. Chamando.
     E caiu.
     Um subito arrependimento surgiu na cabeça dele. Uma lágrima caiu triste levando consigo o sorriso dos lábios dele. Acendeu um cigarro e ficou sentando no meio fio. Queria ter alguma cerveja para acalmar seus pensamentos de abandonado.
     Olhou a lua, mas não a encontrou. Seria lua nova ou as nuvens eram muito densas? Olhou no telefone celular as horas. Meia noite e cinco. Suspirou e deitou na calçada. Fechou os olhos e as lágrimas cairam mais rápido. E o telefone tocou. Na tela o nome novamente "Columbina".
     - Desculpa! Vou me atrasar. - A voz suave dela era doce.
     - Quanto tempo?
     - Vinte minutos. Te dou um toque quando estiver pronta. Beijos...
     Antes dele responder beijos o telefone desligou.
     Deu play para o tempo passar mais rápido. E assim ele foi passando. Ouviu umas cinco músicas. Olhou o relógio do celular. Vinte minutos haviam se passado e nada dela. Mas dessa vez ele estava prevenido, não havia juntado o sorriso do chão.
     Vinte e cinco minutos. As pernas tremiam ansiosas.
     Trinta minutos. O telefone recebe uma mensagem. Notícias do mundo, mas não dela.
     Trinta e cinco minutos. Pierrot estava em pé.
     Quarenta minutos. Estava caminhando em direção a casa dela.
     Quarenta e um minutos. Ele ligou. Chamou. Chamou. Chamou. O coração dele se despadaçou. Chamou e caiu. Ele deu meia volta. Desligou o telefone.
     Voltou para o seu quarto. Tirou as roupas sem cor. Jogou o telefone em um canto e se jogou na cama. Antes de dormir pálido e emudecido pensou:
    "Colombina obrigado por me fazer esperar e me trocar por outro alguém que nem sei quem é..."
     E até hoje nosso Pierrot apenas chora... derrubando uma única lágrima por dia.
     Uma lágrima chamada Colombina.

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