terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nesse sistema financeiro de Amar

     E de repente me vi na fila de um banco privado. Muitas pessoas segurando de modo firme suas moedas. Era a fila de depósitos. Quis fumar um cigarro para baixar a ansiedade, mas lembrei que não podia. Quis tomar uma cerveja, mas lembrei que também não podia. Cortes necessários para cada vez mais sobrar moedas.
     Lá estava eu, com as mãos suadas e o corpo agitado. Estava com pressa e a fila se quer se movia. Deu tempo para preencher o cheque. Sim, eu estava decidida a depositar mais do que as minhas moedas. E o tempo do relógio que estava sobre a cabeça dele continuava se arrastando. Cada minuto parecia uma semana.
     Eu olhava os lindos olhos dele. O movimento das mãos contando suas próprias moedas. Um sorriso de menino e a barba por se fazer. Eu queria que ele estivesse me esperando. Esperando apenas a mim, para receber minhas moedas e meu cheque. Ele era o meu banco particular.
      E de repente me vi sozinha, sem filas. Não enxergava mais pessoas e continuava não querendo os cigarros e as cervejas. Eu só queria que meu coração parasse de acelerar, que minha barriga deixasse de ter aquele frio e que meu peito não apertasse tanto. Não tinha tempo para mais nada.
      Ele me olhou com ternura, mas não com paixão. Falou com a voz firme, sem aquela doçura de carinho. As mãos, quando vistas de perto, não brincava apenas com suas próprias moedas. Seriam moedas de quem? Seriam outras moedas? Estava confusa, caminhando sem direção, seguindo uma única direção. Os braços dele. E ele me chamou.
       - Próxima...
     Não me senti feliz. Eu era apenas a próxima e não a única. Olhei rapidamente a minha volta e todos estavam lá novamente. Atrás de mim, segurando suas moedas. Eu não era a única, era a próxima. Mas não vacilei, com passos de menina cheguei próximo dele.
Uma por uma fui entregando minhas moedas. Duas de respeito, uma de vaidade, três de ciúmes, dez de carinho, vinte de paixão, duas de verdade e... onde estavam minhas moedas de companheirismo?
      O coração acelerou ainda mais, querendo parar de cansaço. Minha respiração ofegante. Percebi que ele olhou por sobre meus ombros querendo enxergar a próxima. Mas essa era minha chance de ser a única. E lá estavam elas, dentro do meu bolso esquerdo do meu casaco. Só as descobri ali porque as batidas do coração as fizeram mexer. Como se meu coração dissesse:
       - Você tem muito a dar para companheirismo, menina!
     Peguei minhas trinta moedas de companheirismo e entreguei ao meu banco privado. Antes de sair coloquei em suas mãos o meu cheque especial. Estava destinado a ele, cruzado. Só ele poderia trocar. Naquele cheque a quantia justa: Muita esperança.
      Dei um sorriso para ele e sai. Não escutei ele chamando a próxima. Porque não houve próxima. O banco estava fechado naquele dia que insistia em não acabar. Mas se você pensa que depositei tudo o que eu tinha nesse alguém, você está enganado. Eu sei que com ele minhas moedas podem ter lucros gigantescos.
    Mas não se deposita todas as expectativas e sentimentos. Apenas o necessário para ser inesquecivel, para ser justo, para ser único. Se minhas moedas de companheirismo, respeito, vaidade, ciúmes, carinho, paixão e verdade não forem suficientes posso te dizer que sou minha Casa da Moeda, sou uma fábrica de moedas, assim, igual a você. Hoje estou aberta apenas para ele. Nesse gigantesco sistema financeiro de amar.

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Crônica a pedidos de @DeboraahSoares por ter encontrado A frase na carta.

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